28 de dezembro de 2007

Eu amo muito minha vida

Depois me perguntam porque eu repito todo dia o quanto sou uma mulher de sorte.



Manolo diz:
viva a vodka
Paula diz:
viva!
Manolo diz:
love ya
Manolo diz:
muito louco a gente sentir um amor tamanho a ponto de ter que verbalizar [ou digitar] de tempos em tempos
Manolo diz:
quero vc pra vida inteira
Manolo diz:
te amar
Manolo diz:
te proteger
Manolo diz:
te compartilhar
Manolo diz:
te rir
Paula diz:
meu deus
Paula diz:
mega me deu uma alegria aqui no peito
Paula diz:
esquentou e tudo
Paula diz:
muito muito recíproco
Paula diz:
quero tudo isso e mais
Paula diz:
e amo saber que te tenho aqui
Paula diz:
ai
Paula diz:
que delícia
Paula diz:
AMO VOCÊ
Paula diz:
Ê!!!!
Manolo diz:
ADORO TEU ''Ê''
Paula diz:
êêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêê!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Manolo diz:
vou fazer um mantra agora
Manolo diz:
só entro em Londres
Manolo diz:
quando vc for ao meu lado
Paula diz:
adorei
Paula diz:
pronto
Paula diz:
vamos juntos
Paula diz:
nós dois
Paula diz:
a Londres
Paula diz:
caralho
Paula diz:
fechou
Manolo diz:
pois já é
Paula diz:
obrigada
Paula diz:
por existir em minha vida
Manolo diz:
vai ser um agradecimento especial na virada
Manolo diz:
por ter-te mais em 2007
Manolo diz:
sabendo de ter-te mais e mais em 2008
Manolo diz:
2009
Manolo diz:
2010...
Manolo diz:
...
Paula diz:
vou dedicar um obrigada especial a isso, sem dúvidas
Manolo diz:
tenho certeza que este ano vou chorar
Manolo diz:
na virada
Paula diz:
eu choro sempre
Manolo diz:
aliás
Manolo diz:
posso dizer
Manolo diz:
sem muito medo de errar
Manolo diz:
vc é o meu presente de 2007
Paula diz:
vc
Paula diz:
não
Paula diz:
tem
Paula diz:
noção
Paula diz:
de
Paula diz:
como
Paula diz:
me
Paula diz:
sinto
Paula diz:
socorro
Paula diz:
vou explodir aqui e já volto
Manolo diz:
VC QUER UM HOMEM PRA VIDA INTEIRA?
Paula diz:
depende do homem e depende pra quê
Manolo diz:
SIM OU NÃO?
Manolo diz:
QUER UM HOMEM PRA VIDA INTEIRA?
Paula diz:
quero
Manolo diz:
VOCÊ TEM
Manolo diz:
CINCO AO MENOS
Manolo diz:
PAI
Manolo diz:
IRMÃO
Manolo diz:
TUCA
Manolo diz:
ANGELO
Manolo diz:
MANOLO
Paula diz:
nossa
Paula diz:
nem tem noção do meu sorrisão aqui
Manolo diz:
E OUTROS QUE SEI QUE VC TEM
Manolo diz:
NÃO QUE EU QUEIRA ME COLOCAR NA QUINTA POSIÇÃO
Manolo diz:
APENAS CITEI OS QUE TENHO CERTEZA QUE TE SÃO PRA VIDA INTEIRA
Manolo diz:
E RABUJA, SORRY
Paula diz:
não existem muitos mais, mas estes são suficientes
Paula diz:
e valem cada gotinha do amor que sinto por eles
Manolo diz:
SUA PERVERTIDA
Manolo diz:
MULHER DE 6 HOMENS
Paula diz:
hahahaha
Paula diz:
iuhuuuuuuu
Paula diz:
e olha
Paula diz:
lembre que tenho dois irmãos
Paula diz:
mais um na lista
Manolo diz:
AH TAH
Manolo diz:
SORRY AGAIN
Paula diz:
ai, meu deus, eu amo minha vida
Manolo diz:
A CASA DOS SETE HOMENS
Paula diz:
minha minissérie
Manolo diz:
VC PULSA
Manolo diz:
VC VIBRA
Paula diz:
e vou ficar metida a besta
Manolo diz:
UHAUHAUHAUHUAHUHAUHA
Manolo diz:
FICA MESMO
Manolo diz:
TEM TODO DIREITO
Manolo diz:
SUA BOBOCA
Manolo diz:
BESTONA

16 de dezembro de 2007

Quando eu crescer...

Eu juro que não sei se sinto raiva, despeito e inveja ou se me sinto agradecida, poupada e satisfeita, mas o fato é que vira e mexe eu me vejo instigada a falar sobre algum assunto, e então lembro que Alex já o fez, e certamente fez melhor do que eu faria. O que me conforta é que ele é mais velho, está temporalmente à minha frente, então eu aceito que ele tenha descoberto tudo antes de mim.

Estava eu outro dia conversando com Rabuja sobre arrogância e pretensão, e me sinto sempre meio ridícula quando me vejo repetindo literalmente as palavras de Alex. Minha única saída é assumir o título de Alexete que me conferiram. Fazer o quê? Ah, vá lá, não sou uma imitona qualquer, ele apenas me libera da tarefa de construir argumentos para defender meus piores pensamentos. Ô, Alex, obrigada por ter enlouquecido a tempo de não me deixar sozinha.


E para quem se interessar (e eu super recomendo que você se interesse), eis um curso básico sobre Alex Castro, uma das pessoas mais interessantes que eu conheci nesta minha humilde vidinha (bom, ao menos são meus preferidos e, ainda, ao menos são os que me lembrei em meio à busca rápida que fiz agora):

- Primeiro, o texto a que me referi na conversa citada, Tentativa de Definição de Arrogância.
- "As Prisões" foram a razão de eu ter me apaixonado por ele. Especialmente o texto sobre Segurança.
- Eu Sou Livre! - ô, pai, vê se me entende!
- Auto-Estima Sexual.
- Fábrica de Machistas.
- Pessoas que Acreditam em Coisas.
- Não Vou Ser Levado a Sério Se Falar as Coisas Só pra Criar Polêmica.
- Incrível Capacidade de Não-Escrever.

Ah, chega, Alex já me pediu para eu parar de fazer as pessoas odiá-lo.
Beijinho, beijinho, amigo, amigo, não zanga não!

7 de dezembro de 2007

Festivais

Achei feliz o texto do destaque da agenda da semana do Caderno Dez!, do jornal A Tarde, desta terça-feira (mesmo que eles tenham cometido o erro de não citar o nome do Cascadura, um dos evidentes destaques da programação do Festival em questão):

"Todo mundo reclama, diz que não tem festival de rock na Bahia, que o Festival de Verão não traz nada de diferente. Então não tem desculpa para não ir no 3º Boom Bahia, que além de tudo é de graça. Tudo bem que o festival também não tem atrações muito esperadas, mas tem Snoozer [SE], Montage [CE], Wander Wildner [RS] e, melhor que todos eles, Retrofoguetes [BA]. Lá, também vão aparecer Rebeca Matta, Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta, Pessoas Invisíveis, Berlinda e os DJs Big Brother, Adriana Prates e Mauro Telefunksoul. Outro bom motivo para ir no 3º Boom Bahia é visitar o Pelourinho. Depois do marasmo, estão rolando muitos shows legais por lá. Pro reclamão, não tem desculpa."


Caderno Dez!, Jornal A Tarde, 04/12/2007


Por falar nisso, o Festival de Verão - batizado por Luciano Matos como Festival de Merdão depois de ter sido divulgada a lastimável grade de atrações do seu palco principal - deu uma boa suspirada e saiu do coma vegetativo ao confirmar a maior parte dos nomes do "Palco Tendências": tem Cachorro Grande e Pato Fu, além de minhas queridas e adoradas bandas-clientes: Cascadura, Lou e Aguarraz.
Ufa, tem gente de bom gosto envolvida no troço!

Então: eba! Bingo!
Pelo visto, estarei lá, feliz, todos os dias.




Cascadura, por Ricardo Ferro


Lou, por Igor B.


Aguarraz, por Paula Meyer

6 de dezembro de 2007

Liniers



Recuar. Fraquejar. Conformar. Desistir.
É meu hábito?
Ou minha hora de roubar a lua?



(Indicado por Dani, estou babando e consumindo compulsivamente.
Não percam
as tirinhas de Liniers.)

27 de novembro de 2007

Grandpa

Meu avô me confunde.
E, sempre que tento falar de quem ele é, pareço estar me contradizendo todo o tempo.
É fácil fazer uma lista de adjetivos opostos para descrevê-lo.
Parece um daqueles ditados de antônimos de quando estamos na 1ª série:
"Alegre?" - "Triste!"
"Forte?" - "Fraco!"
"Gentil?" - "Rude!"
"Amável?" - "Áspero!"
"Repulsivo?" - "Simpático!"
"Mau?" - "Bom!"

Consigo visualizar com nitidez os dois homens que habitam dentro do meu avô. É assim, talvez, porque ele é uma pessoa de extremos. É 8 ou 80. Ama ou odeia. É amigo-irmão ou inimigo de morte. No entanto, espremendo tudo, tirando os excessos que disfarçam sua consciência, fica aqui para mim, transparente como água, uma verdade incontestável: meu avô tem o maior e mais mole coração do mundo. É um menino bobo, que choraminga à toa, que tem dificuldade em dizer "não", que faz qualquer coisa por aqueles que ama.

Também não é difícil fazer uma lista das coisas chatas que meu avô me fez viver e de certas teorias doidas que tentou me ensinar. Hoje, “do alto de minha adultez”, eu compreendo as razões de suas famosas imprudências: meu avô é um homem da década de 20, educado de maneira severa, instruído a manter uma tal honradez masculina, dos valores rígidos de moral e família, logicamente distante do universo feminino e, sobretudo, drasticamente oposta à liberdade sexual (de quem não é macho, presume-se). Já pedi desculpas pessoalmente a Luiz Mott, ex-presidente do Grupo Gay da Bahia, pela intolerância que meu avô um dia teve espaço para disseminar. Pedi desculpas em nome dele, em meu nome, em nome deste sobrenome marcante que carregamos. Acho que, se meu avô fosse um homem menos orgulhoso, faria o mesmo, hoje. Infelizmente, creio que vai partir deste mundo deixando a fama de ser o “homófobo mais raivoso do Brasil”, como o próprio Mott definiu.

Faço críticas a meu avô abertamente, inclusive diante daquelas pessoas que vêm me felicitar por ser neta dele, em especial quando as razões das congratulações se argumentam neste sentido: é claro que me dá agonia quando alguém se aproxima e sacode minha mão dizendo que “ainda bem que existem pessoas como Seu José, para defender a moral e os bons costumes deste país sem-vergonha”. Sem-vergonha este país é, quem sou eu para discordar, mas vergonhoso mesmo é achar que homem que beija na boca de homem pode causar algum problema para a sociedade em decorrência deste fato, pontual e simplesmente. Me poupem.

A despeito disso tudo, carrego muito orgulho por ser neta de José Augusto Berbert de Castro. Sim. Meu avô me ensinou a ter gosto por leitura, por filmes, por conhecimento. Meu avô me proporcionou muitas coisas, foi muito presente na minha infância, cuidou de mim, me deu carinho e amor daqueles que chegam a ser sufocantes! Meu avô é um homem cultíssimo, de memória impressionante. Um contador de histórias que adora divertir as pessoas e falar das emoções da vida. Meu avô conquistou espaço, respeito e reconhecimento através do seu trabalho, mesmo em meio a tantas polêmicas. E é um belo exemplo de lealdade, firmeza e honestidade.

Definir meu avô e contar o que ele representa em minha vida é tarefa que me custaria um livro, sem exagero. Um dia, quem sabe, faço isso. Talvez me cobrem. Espero mesmo que nunca esqueçam de quem sou neta.

Recentemente, o melhor amigo da juventude do meu avô faleceu. Aconteceu depois de eles terem passado anos - muitos anos - sem se falar. Brigaram e ficaram de mal até o fim. E ele chorou e sofreu como uma criança, escondido. Meu avô finge que é mau, finge que é rude, mas, creiam, quem mais carrega dor por isso é ele próprio.

Amo aquele velhinho frágil, amo muito.
E, hoje, desejo que o seu aniversário seja feliz, que sua saúde se fortaleça e que seus dias sejam mais tranqüilos.
Ele merece.
Parabéns, vovô.

26 de novembro de 2007

Uma correntezinha não dói

Estou eu dando uma geral por um dos meus blogs preferidos, de um amigo queridíssimo e adorável, quando me deparo com uma intimação daquelas que não doem, daquelas que dão vontade de cumprir na hora, seguindo as regrinhas direitinho.

Vejamos:
1ª) Pegue um livro próximo (PRÓXIMO, não procure);
2ª) Abra na página 161;
3ª) Procure a 5ª frase completa;
4ª) Poste essa frase em seu blog;
5ª) Não escolha a melhor frase nem o melhor livro;
6ª) Repasse para outros 5 blogueiros.

Olhei pra mesinha daqui do lado e não acreditei: o livro que estava posto ao alcance de minhas mãos foi o mesmo que estava na cabeceira de Lemu quando ele propôs a tarefa, há mais de um mês. Venho atrasada, mas não vou repetir a frase, vou catar o segundo livro mais perto de mim:

Cleo, deitada na cama, pensava na morte.
(Cleo e Daniel, de Roberto Freire.)

Caralho, parece aviso.

Repassemos:
Clóvis, , Buja, Dani e Luíza, é com vocês.

21 de novembro de 2007

Só deixo meu coração na mão de quem pode

É um saco blog cheio de letra de música, sim, um saco bem cheio. Mas Clóvis veio e me apresentou esta daí como sendo meu hino. Gostei. Queria mesmo que fosse - tão simples. Meu coração não é tão regrado, talvez também não tão exigente, e o ciúme nem sempre é só vaidade. Publico, porém, porque gostaria de ser segura e decidida a ponto de cantar isso como meu. Não sou tudo que pareço e enceno. Não tenho a força e a gentileza que em mim enxergam. Tenho mais medos e angústias do que o previsto, guardo lágrimas contidas da vergonha que sinto por ser gente quando se dizem surpresos por eu ser como sou. Temo a média que apontam ultrapassada por mim - que raça é essa, então, eu que sou esse pouco daqui? Temo e busco quem não me diga tanto. Garimpemos enquanto há impulso, enquanto há carência. No resto do tempo, sejamos sociais, obrigada. A verdade é que desisti do mundo há tempos, habito por dentro, virando do avesso, entrando pela boca até voltar ao normal - e começar de novo. Só eu entro em mim. O que está por fora, já que está aqui, sorri e se diverte, finge estar em casa. Lastimar-se é perda de tempo, já que não tem jeito, existem coisas mais gostosas a se fazer. Queria que fosse meu hino não só pelo que mostro, mas também pelo que vivo. Publico. Que assim seja.




Só deixo meu coração na mão de quem pode
Fazer da minha alma suporte pra uma vida insinuante
Insinuante anti-tudo que não possa ser
Bossa Nova hardcore
Bossa Nova nota dez
Quero dizer
Eu tô pra tudo nesse mundo
Então só vou deixar meu coração
A alma do meu corpo
Na mão de quem pode
Na mão de quem pode e absorve todo céu, qualquer inferno
Inspiração de mutação da vagabunda intenção
De se jogar na dança absoluta
Da matança do que é tédio, conformismo, aceitação
Do “fico aqui, vou te levando nessa dança”
Submundo pode tudo do amor
Pode tudo do amor
Porque não quero teu ciúme que é o cúmulo
Ciúme é acúmulo de dúvida, incerteza de si mesmo
Projetado, assim jogado
Como lama anti-erótica na cara do desejo mais intenso de ficar com a pessoa
E eu não tô à toa
Eu sou muito boa
Eu sou muito boa pra vida
Eu sou a vida oferecida como dança
E não quero te dar gelo
Jealous guy
Vê se aprende, se desprende
Vem pra mim
Que sou esfinge do amor
Te sussurrando: decifra-me
Só deixo minha alma, só deixo o coração
Só deixo minha alma na mão de quem pode
Só deixo minha alma
Só deixo meu coração na mão de quem ama solto
Eu vou dizendo
Que só deixo minha alma, só deixo meu coração
Na mão de quem pode fazer dele erótico suporte
Pra tudo que é ótimo fator vital

(Katia B, Marcos Cunha, Plínio Profeta, Fausto Fawcett)


Ah! Leiam isso. Indico.

Ai, ai.

19 de novembro de 2007

New tattoo

FAWOHODIE: "independence".
Symbol of independence, freedom, emancipation.
From the expression Fawohodie ene obre na enam.
Literal translation: Independence comes with its responsibilities.

18 de novembro de 2007

Não posso julgar ninguém

Ao seu lado
ela se dispõe a estar
pronta para lutar
por um sorriso seu
Ao seu lado
ela se satisfaz
quando você diz mais
que "tudo bem, baby"
Você estala os dedos
e ela está lá
pronta pra se entregar
aos seus caprichos de rei
Você sabe
o quanto ela tem contado
com um final feliz
claro que ao seu lado
Você disfarça quando troca os nomes
mas é impossível ela não perceber
Quando derrotada no escuro do quarto
se desmancha em prantos
mas ainda quer você

Eu no seu lugar tentava mudar
Ao menos uma vez
Faria ela ver quem é você
Mas isso é contigo, rei
Eu vivo sozinho
Não posso julgar você

Você quase
já não lhe dá atenção
me corta o coração
ver-lhe os olhos marejados
Quem me dera
tê-la assim ao meu lado
mas guardo esse pecado
para o confessionário
Ela se distrai alimentando sonhos
que certamente você constrói com outro alguém
Se ela me ligar outra vez chorando
o que é que eu digo, rei?
ela ainda quer você

Eu no seu lugar tentava mudar
Ao menos uma vez
Faria ela ver quem é você
Mas isso é contigo, rei
Eu vivo sozinho
Não posso julgar você
[Não posso julgar ninguém]

(Fábio Magalhães)


Odeio e amo esta música. Muito.
.
.
.
Quem quiser o MP3, só pedir.

13 de novembro de 2007

Ode às cariocaxxxxxxx

Ok, ok: todo mundo bem fala que o povo carioca, aquela gente bronzeada, torneada, descolada, com o sotaque mais sacana do universo, é o tesão deste meu Brasil. Eu bem confesso que meu humor muito melhora já nos saguões do aeroporto, é muita vista bonita por metro quadrado, os suspiros agradecem.

Mas, velho, na moral, estava eu aqui lembrando feliz da minha noite de samba sem fim na Lapa com as meninas cariocaxxxxxx, e só penso: nossa mãe, como é que este tal de Deus juntou tanta beleza, atitude e maravilhas sem fim nestas quatro mulheres? E por que estas viadas tão interessantes têm de estar assim a tantos quilômetros de distância de mim? Por que não existe uma cidade exclusiva para eu viver com todas estas gentes que eu admiro e que vivem no mesmo mundo que eu? Por quê, hein? Por quê? Por quê?

E, para o deleite de todos, vos apresento: ai, como eu queria Dani, Renata, Luíza e Clarisse batendo em minha porta todo dia!
Podem babar, marmanjos e marmanjas, elas merecem.
Aliás, para a felicidade dos baianos - e tristeza da Cidade Maravilhosa -, Luíza (uma versão com bem mais sal e pimenta da global Samara Felippo) vem de mala e cuia, em janeiro, se instalar como nova moradora soteropolitana. Uêba! Só falta eu convencer as outras três.

12 de novembro de 2007

Vício novo

"Vou insistindo em não pirar de vez
É o que há de melhor em mim e que me faz crescer
Não há ninguém no mundo inteiro capaz de dizer
O que eu posso, o que não posso ou o que eu devo fazer"

Você já conhece a Aguarraz?
É meu novo vício musical, projeto de amigos, com a voz marcante de minha quase-prima (ambas somos parentes de Irmã Dulce - sim, a quase santa -, mas por lados diferentes da família) à frente.
Mais que recomendo.

Aí em cima, trecho da música "Bem Mais Leve", a minha preferida, uma composição de Fábio, do Cascadura, com Rafael Ribeiro.
Ouço umas 17 vezes por dia, no mínimo.

Foto por Paula Meyer.

31 de outubro de 2007

“Porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim”

Uma vez, escreveu para repetir - e falar pela primeira vez algumas coisas também - que sentiria saudades, que adorou tê-lo conhecido, que se divertiu muito, que vai ser bom contar a história para os netos, que o playground do seu prédio não seria mais o mesmo, que encontrar gente que nem ele é raro, que era bom beijá-lo até com gosto de cachorro-quente, que ele foi muito legal em entender o seu mau-humor temporário, que foi bacana falar pelos cotovelos e contar tantas histórias enormes (e que se sentiu acolhida e confortável a ponto de fazer confissões íntimas que não costuma anunciar por aí), que gosta das coisas que ele conseguiu dizer em meio a seus monólogos e que elas estarão confidencialmente guardadas, que tentou fugir daquele encontro com início, meio e fim programados, mas que não conseguiu, que teve vontade de bater nele por ele não tê-la deixado quieta no seu canto, que teria tido ainda mais vontade de bater nele se ele a tivesse deixado quieta no seu canto, que foi bom dançar com ele, beber com ele, fazer farra com ele, que a lista do que admira nele é longa, excessivamente longa, que era meio doido estar então no papel do terceiro elemento e ter noção do espaço que podia ter em sua vida (e que achava que a esposa dele é uma mulher de sorte), que adorava suas ligações carinhosas e adorava mais ainda os elogios que ele fazia, que ficava rindo feliz das aventuras adolescentes, que transar com ele era delicioso, ainda que não tivessem deitado juntos numa cama, que foi bonitinho ele testemunhar o momento mulherzinha dela diante de uma barata, que lhe viam à cabeça algumas frases bastante piegas, que o desejava o melhor desta vida e que gostava dele de verdade.
E disse:
“Boa viagem, boa volta, boa vida, se cuida.”

(Título roubado de Drummond.)

16 de outubro de 2007

15 Parabéns

Você já votou? Você vai comemorar com a gente? Você viu que eles estiveram no , no Bem Brasil, estreando clipe na MTV, na TVE de Minas, TVE Bahia, no Jornal da MTV, e em várias outras coisitas e ocasiões que escapuliram do YouTube? Você viu como eles deram show no teatro ao lado de Morotó e de Ronei? O teaser, você viu? E Wilson Melo mandando Fábio tomar no cu? E Queda Livre, minha preferida?

15 de outubro de 2007

Quem o chamou?

Eu pus a língua para fora e me entornei em copos cheios de gelo. Um homem fardado se aproximou e me fez elogios com um tom rude, quase com raiva de ter gostado, parecia. Foi a primeira vez que me chamaram de patricinha e que não tomei como ofensa – mas, pensando bem, não me vem à memória outra situação em que isso tenha acontecido. Patricinha, eu? Não ousaram um julgamento deste antes, decerto. Eu ri e fiquei sem conseguir mais, durante alguns minutos, tirar o riso da cara. Ficou preso. Eu deveria ter desconfiado de que isso é coisa de polícia, este poder carregado em cada palavra, cada espaço, cada reticência, esta força ensaiada. A despeito disso, não perdi a pose. Nunca me incomodei mesmo com a avaliação feita sobre mim. Será que ele achou que eu iria baixar a cabeça? Será que ele achou que eu iria recuar, negar, me sentir envergonhada? Fato é que eu não tentaria recompensar minhas vulgaridades – o tempo para gastar com isso me reserva coisas melhores. Pus a língua para fora mais uma vez, e outra e outra, ao que ele disse que minha conduta se assemelhava à de ofídios peçonhentos, enquanto confessava se atrair por isso quase como quem se diz masoquista, “maltrata que eu gosto, maltrata que eu gosto”. E eu me apaixonei por cada vírgula e o riso ficou mais preso e eu não parava de repetir em pensamento o que escutei, letra por letra. Hedonista, safada, frívola, despudorada, fútil, venenosa. Onde surgiu tamanha capacidade em usar palavras perfeitas assim, de modo tão escandalosamente envolvente? Quando aprendeu a dizer exatamente aquilo que vai deixar a outra com vontade de ouvir mais? O que devo fazer para que não acabe? Para que me xingue e encare?

Diz-se retardado diante de uma mulher!

7 de outubro de 2007

Domingo

Eu fico aqui com o cheiro de ontem, o cheiro da fumaça e do suor, da sujeira no chão, do carro descuidado. Das músicas que cantei, do tom de voz descontrolado, dos risos sem-vergonha, de toda falta de vergonha, melhor dizendo. E os copos, as pedras de gelo, as conversas forçadas e as tentativas de me afastar de uns chatos. Ainda do meu disfarçado modo de procura, a procura mal sucedida e eu olhando de canto. Do teatro, do balde azul, da moça que acho bonita, dos degraus, da maquiagem, do desfile cuja repercussão desconheço. Máquina fotográfica, falação, sanduíche, fome, fome, fome e só como porcaria. Recapitulo em busca de decifrar os pedaços deste cheiro de hoje, os discursos, a curiosidade, os risos, o telefone, o amanhecer, o "boa noite".
E eu dormi na cama mais gostosa do mundo.

2 de outubro de 2007

Autorização

Hei, você aí!
O ilustríssimo senhor não autoriza comentário em seu blog, como eu direi que autorizo?

E aproveitemos para esclarecer: Marina não tem nada de genial, foi só um surto psicótico; Marina está aí pela net, quase em domínio público, então que sentido haveria eu não autorizar?; Marina está registrado em meu nome, sou dona-doníssima dele, então use e abuse à vontade, só não ganhe dinheiro com isso que eu corro atrás dos royalties; até onde sei, se você cita o autor de uma obra não-publicada, cujos direitos não foram comprados por ninguém, pode-se colocar pelos blogs do mundo sem precisar pedir autorização e sem se sentir anti-ético.

Enfim, manda bala!

25 de setembro de 2007

Quebra-cabeça

Dani me perguntou:
- E aí, como é isso?
E eu respondi:
- Na verdade, Dani, vou ser bem honesta: a única coisa chata de eu ter uma tatuagem com o nome do meu ex é ter de responder sempre a esta mesma pergunta.

Quando eu e Angelo terminamos, meu pai lamentou: "Poxa, tá vendo?, não se faz uma coisa definitiva assim, vai ter de conviver com isso agora".

E lá vou eu.
Pois foi naquele momento, eu acho, que me dei conta de que o problema com o qual eu teria de conviver seria esse.

Quando nós decidimos escrever na pele o nome um do outro, claro que eu não pretendia me separar. Mas também não era o pensamento de que ficaríamos juntos para sempre que motivava a minha escolha. Não sei de onde as pessoas tiram a idéia de que eu poderia ter ido fazer esta tatuagem me garantindo nisso. A única certeza que existia era de que o registro seria eterno e ficaria comigo até o meu fim. Pronto. Eu quis, nós quisemos, fazer a marca da nossa passagem, sem nunca poder prever aonde ela chegaria. Angelo foi o homem que me fez optar por isso, que me fez acreditar nisso, o que já me foi e é suficiente.

As pessoas arregalam os olhos, perguntam "e agora?", dizem "que merda, hein?", fazem "pshhhh!", tentam me dar carão, ficam com pena, balançam as cabeças, perguntam se estou bem... Tudo isso simplesmente porque perguntam "quem é Angelo?", e eu digo que é meu ex-marido. Nossa, é um alvoroço. Eu rio, ou simplesmente dou um beijo na tatuagem, não tenho saco de argumentar com qualquer um.

Não fui eu que disse isso a Renata, provavelmente ela questionou a algum amigo em comum, porque já chegou em mim sabendo de tudo e falou a coisa mais legal que já ouvi sobre esta situação: "Vocês devem ter sido um casal e tanto para serem os únicos que já vi na vida que não pretendem cobrir uma tatuagem do tipo, admiro vocês". Bingo.

Dizem que um dia eu vou mudar de idéia, mesmo quando explico toda essa história. Dizem que um dia eu não quererei mais ter esta marca em mim. Mais uma vez eu prefiro não tentar adivinhar o futuro. O que importa, de fato, é que agora eu não tenho a mínima intenção de tentar apagar esta escolha tão especial e verdadeira. Angelo nem precisaria estar na minha pele para estar eternamente no meu coração.

11 de setembro de 2007

São Paulo é menor que Salvador ou O acaso paulista é lindo

Quinta-feira, dia 6. Eu e Rafa chegamos em São Paulo, arriamos as malas no hotel e saímos famintas para comer pizza na Augusta. A idéia era acalmar o estômago, voltar feliz para um cochilo e, então, encarar banho e festa.

Andando contentes pela rua, batendo papo distraídas, Rafa, que bem conhece minha fixação - agora em total crise - pelos cabelos curtos, avista uma bela morena com um corte lindo de doer. Olhou e ia me mostrar e não entendi quando ela ficou meio congelada com cara de dúvida (por que parou, parou por quê?).

- Aquela ali não é Renata?
- Ahn?
- Olha ali, é Renata?

Caraaaaaalho, não acredito! É grito, é pulo, é abraço e Renata, amiga carioca que mora em Sumpaulo, ordena: lógico que vocês vão sentar aqui para tomar uma cerveja comigo e brindar o grande encontro casual. O que era para ser um copo vai virando um monte de garrafa vazia na mesa, quando Renata comemora: caraaaaaaaaaalho, não acredito! Era Rodrigo, amigo dela, chegando no boteco, outra aparição não-prevista. "As baianas" foram devidamente apresentadas e foi vez da ordem dele: juntem-se a nós. Num instante, estávamos com um bolo de gente, papo sem fim e aquela delícia de conhecer mais gente boa deste mundo. Rodrigo e Rubens ganham troféu de quero-ser-amiga-deles.

[Da esquerda para a direita: Rafa, eu, Vitor, Renata, Rubens, Tina, Rodrigo e Paula, no Escócia, boteco na Augusta - aquele paraíso na Terra -, num dos encontros casuais mais legais da história da humanidade.]

Algumas horas depois, tomamos coragem de abandonar o povo para encarar o banho e tal e tal. Passamos numa banca de revista e... Caraaaaaaaaaalho, não acredito! Danilo, um querido paulista do coração, me aparece perdido por lá - tempo de dar um abraço e marcar umas coisas e tudo mais. Oba.

A noite foi parar na Loca e estava eu lá, dançando na minha, quando me vem outra surpresa.

- Lemu?
- Paulinha!
- Caraaaaaaaaaalho, não acredito!!!

Lemuel é lindo, mora no meu coração e eu não o via há anos. Bom demais dançar com ele, trocar umas risadas, falar um pouco da vida.

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Sexta-feira, dia 7. Andávamos à tarde pela rua e nos cruzamos numa esquina com Rodrigo. Êêêêêêêêê! Neste mesmo dia, em momentos e lugares diferentes, esbarramos com ele três vezes. Na última, nos convencemos de que o universo estava conspirando para nos unir e marcamos encontro pro dia seguinte.

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Sábado, dia 8. Acordo e tem mensagem de Rabuja contando que Dani está chegando em Sumpaulo. Dani também é do Rio e encontrá-la era obrigação. Passamos o dia trocando mensagens e telefonemas interurbanos para acertar as coisas. À noite, enfim juntas:

- Você está hospedada onde?
- Num hotel na Consolação.
- Qual??
- O Formule 1.
- Nós tambééééém!!!
- Puta merda, qual o quarto de vocês?
- 1863.
- Caraaaaaaaaaaalho, não acredito, estamos separadas por apenas uma porta.
- Jesus, a gente fazendo interurbano estando lado a lado.

Neste mesmo dia, passamos uma tarde deliciosa com Rodrigo e Rubens. Baião de dois, cerveja, lojinhas, feirinha. Rodando em meio ao chorinho da Benedito Calixto, Rafaela faz cara de dúvida outra vez:

- Paula, ali é Felipe?
- Ahn?

Caraaaaaaaaaaaaalho, tá foda, não acredito. Felipe, amigo de Salvador, estava também rondando por Sampa no feriadão.

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São Paulo é muito pequena, só pode.

2 de setembro de 2007

Paula Bethania

Zeca diz:
nao corte nao viu dona mainha?
Paula diz:

Zeca diz:
ja cortou???
Paula diz:
eu sou tão feia assim de cabelo curto, é?
Zeca diz:
eita! nada disso
Paula diz:
entao por que esta campanha tão convicta?
Zeca diz:
acho q todos tiveram a mesma visão
Paula diz:
qual?
Zeca diz:
jesus apareceu pra mim em um sonho
Zeca diz:
e disse
Zeca diz:
NAO PERMITA QUE PAULA CORTE O CABELO
Paula diz:
hahahahahahahahahahaha
Paula diz:
meu deeeeeeeeeeeeeeus
Paula diz:
eu realmente devo ser muito feia de cabelo curto
Paula diz:
hahahahahaha
Zeca diz:
nem nem, é gatinha extreme
Zeca diz:
mas cabelo curto foi sua fase recente
Paula diz:
claro que nao
Zeca diz:
queremos paulinha bethania
Paula diz:
se não, vc nao faria tanta campanha
Zeca diz:
depois quando vc estiver cabeludona super juba, vc corta curtinhozinho
Zeca diz:
aí sim vc vai chocar
Paula diz:
sim
Paula diz:
já me convenceu
Paula diz:
vou até botar no blog agora
Zeca diz:
;)
Paula diz:
:(


Pronto, minha gente, acabou esta merda, não aguento mais o povo fazendo campanha para eu não cortar o cabelo, estou convencida de que seria um erro grave, tamanho o esforço da galera para evitar o desastre.

Rumo à Paula Bethania, ou enquanto durar minha força de vontade.

27 de agosto de 2007

Crescer ou não crescer: eis a questão

No dia em que fiz 18 anos, em 26 de abril de 1999, eu passei algumas horas da minha tarde num salão de beleza. O objetivo era simples: mudança radical.

Deixei para trás as minhas longas madeixas, que tinham me acompanhado a vida inteira, e apareci na minha festinha de aniversário de cabelinho curto, com mechas muito doidas, do vermelho ao dourado. Meu namorado nem me reconheceu quando me viu. Era todo mundo de boca aberta.

Desde então, nunca mais meus cabelos passaram dos ombros. Vez ou outra, decido que vou deixar crescer, pra ficar grandão, pra ver chegar perto da cintura, como era. Mas... vai chegando no ombro e eu desisto e meto tesoura outra vez e começo tudo de novo.

Estou novamente neste momento de impasse: estou doida pra ver meu cabelão de volta, mas também já estou doida pra ter ele curtinho again.

E agora, José?

E agora que marquei um corte pra esta semana. Ainda não sei o destino que darei à cabeleira: pode ser só uma ajeitada ou pode ser tesoura drástica. Pode ser que eu siga rumo ao cabelo imenso e pode ser que eu assuma que eu nasci mesmo pra ter cabelo de macho - é uma fixação, eu vejo mulher de cabelo curto na rua e fico nervosa, com vontade de correr ao salão mais próximo...

Qual seu voto?
Me ajudem.




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Update:
Controle de votação:

Samantha - corta.
Zeca - não corta.
Ernesto - corta.
Nanda - não corta.
Fabrício - não corta.
Rabuja - corta.
Nana - não corta.
Rafaela Novais - não corta.
Malcon - corta.
Alex - corta.
Hugo - corta.
Leo Marques - não corta.
Luisão - raspa!
JP - corta.
Clóvis - não corta.
Marcela - corta.
Dimitri - corta.
Magda - não corta.
Drá - não corta.
Fefê - não corta.
Samira - corta.
Leo Cravo - corta.
Ricardo - corta.
Fábio - não corta.
Angelo - não corta.
Rafaela Manzo - não corta.
Tarso - não corta.
Thiago Brandão - corta.
Dona Mel - corta.
Tiago Aziz - não corta.
Candido - não corta.
Thiago Trad - não corta.
René - não corta.
Pedro - não corta.

Corta - 14
Não corta - 19
Raspa! - 1

19 de agosto de 2007

Todo castigo para pobre é pouco

- Não, Paula, que é isso? Sexta-feira à noite em casa é coisa de depressão profunda, fim de carreira.
- Esqueça, amiga, não tenho um real, não dá não.
- Ah, eu não acredito...
- Ô, fazer o quê? Se tivesse um programa-de-graça-boca-livre...
- Então, hoje tem calourada, é de graça e eu compro uma garrafa de vodca. Vamos?
- Vamos.

E ela veio me buscar. No carro, cinco pessoas, uma garrafa de vodca, outra de vinho, um isopor com cervejas, gelo, refrigerantes. Fartura. Farra pura, xixi no mato, Beatles e forró. Nunca mais tinha dançado tanto forró, delícia-delícia.

- Tá na hora de ir, né?
- É, chega, vou chamar o povo.
- A outra lá disse que vai ficar por aqui, vai voltar com o morenaço dela.
- E ela não vai mais dormir em sua casa?
- Vai sim, por causa do compromisso de amanhã, ela vai sair com ele e vai depois lá pra casa, deve me bater na porta de madrugada.
- Que inveja.
- Invejona.

Fomos embora. No carro, quatro pessoas, uma garrafa de vodca vazia, a de vinho ficou no lixo, o gelo derreteu e ainda sobraram cervejas.

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11 da manhã.
- Cadê você, miséria?
- Oi, amiga, tô indo!
- Porra, fiquei de olho no celular a noite toda, esperando você aparecer, isso são horas?
- Calma, amiga, tô indo.
- A gente tem de correr, peste, lembra que você tem compromisso às 13 horas?
- Tô ligada, amiga, não se preocupe, tô chegando.

11:30.
- Que porra de "tô chegando" é essa? São 11:30, porrinha.
- Oh, amiga, eu estou a caminho, estou aqui andando com o moreno.
- Andando? Andando onde? Como assim?
- Andando, amiga, fique calma, eu estou chegando.
- Pare com esta porra de andar e venha logo.
- Se eu parar de andar, eu não chego.
- Ahn?
- Paula, fique calma, eu estou indo.

11:45.
- Você está de sacanagem, né?
- Estou andando.
- Você está vindo andando?
- Estamos andando.
- Sim, dá para me explicar isso? Você está vindo andando?
- Não, nããããão!... Que nada! Você acha??? Quer dizer... É... Bem, estamos apenas caminhando...
- ...
- Olhando o mar, passeando, não é legal?
- ...
- Amiga, me dê mais uns minutos, tô chegando.

12:15.
- Paula, cheguei.

Abro a janela para ver a peça lá embaixo e mandar ela esperar que eu já ia descer correndo pra gente sair. Ela me arregala os olhos, pálida, cara de desespero.
- Amiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiga, pelamordedeus, abra a porta, se eu não beber água, eu morro, preciso de água, água, água.
- Aff, tá bom, espera aí.
- Paulaaaaaa, pelamordedeus, eu estou morrendo, vim andando da Pituba até aqui, atravessei aquela Manoel Dias inteira, Amaralina, Rio Vermelho, abra a porta, rápido, me salve.

E lá sobe a mulher, toda torta, toda dura, mancando, perna bamba, salto alto, pés inchados, cara de louca e seca de sede. O homem não era motorizado. E ela saiu do motel sem dinheiro nenhum, disfarçou o papo, atravessou uns bons quilômetros repetindo o quanto gostava de andar, o quanto era agradável passear ao lado do mar, vamos caminhar juntinhos, e lá foram os dois, ressaqueados, sem dormir direito, debaixo de um sol escaldante, cheios de sorriso falso na cara: a situação ridícula do ano. Passou o resto do dia dolorida, sem forças e gemendo ao se movimentar, ui, ai, ui, socorro.

Todo castigo para pobre é muito pouco.

9 de agosto de 2007

"Paula enjoou de ser branquinha e quer ser estampadinha"

Novembro de 2001.
Eu com medo da reação, mas achei justo falar antes:
- Pai, o que você acharia se eu fizesse uma tatuagem?
- Uma tatuagem??
- É...
- Eu acharia massa! Acho lindo! Acho lindo mulher com tatuagem!
- SÉRIO?
- Quer tatuar o quê?
- Marcelo desenhou uma flor para mim.
- Que legal! Vai fazer quando?
- Acho que, pelo visto, agora mesmo.
- Então vai lá e volta cá para eu ver.

Fiz minha tulipa amarela, desenhada pelo meu primo, na região do tornozelo. Meu pai achou pequena. Minha mãe surtou.

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Junho de 2006. Eu e Angelo resolvemos tatuar na pele a nossa união, as peças que nos faltavam um ao outro. Doeu loucamente, tatuar o pulso é uma tortura. Meu pai torceu o nariz e achou que fiz uma grande besteira. Minha mãe chorou e disse que estava decepcionada, achava que eu era inteligente demais para ter feito "tamanha burrice".

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Agosto de 2006. Fui fazer uma tatuagem surpresa, ninguém sabia da minha nova intenção. Cheguei com a idéia de tatuar um troço que eu não sabia explicar direito o que era, só sabia dizer objetivamente o local do corpo escolhido. Fui descrevendo o que eu via, as formas que queria, pedi bolinhas e traços e, depois de narrar meus delírios, João definiu: você quer que eu desenhe um sopro? Sim, acertou, é isso. E a tatuagem foi feita direto na pele. Meu pai disse que era bonita, mas que já estava bom, é a última, certo? Minha mãe disse que era ridícula, você está se enchendo dessa coisa, está toda riscada, o povo tem preconceito, minha filha, pare com isso.

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Setembro de 2006. Eu e Angelo voltamos ao estúdio para retocar as peças do quebra-cabeça. Enquanto meu então marido sofria, eu aguardava, me distraindo entre os desenhos de João. Encontrei lá no meio umas flores que eu havia visto em junho, que eu tinha achado lindas e que estavam reservadas para mim:
- Gostou? São suas. Vão esperar você para quando tiver coragem.
Desisti de fazer o retoque e tatuei o meu jardim. Ele se juntou à primeira flor, subindo pela batata. Meu pai riu. Minha mãe disse que tinha me feito perfeita e que eu estava me estragando.

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Outubro de 2006.
- De tanto você fazer estas tatuagens doidas, eu sonhei que eu estava fazendo uma. Acho que fiquei com esta maluquice na cabeça.
- Hahahahahaha.
- Dói?
- Bem, como explicar? Depende... Não dóóóóóóói, é mais uma ardência. Dá para aguentar de boa.
- Será que seria ridículo se eu fizesse uma?
- HUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUAHUA!
- É, eu pensei que poderia fazer um desenho bonitinho em homenagem a meus filhos, que tal?
- Ai, ai, até parece...
- É sério, Paula, você acha que seria ridículo, não estou velha para isso?
- Minha mãe, eu ia achar massa, pena que você só está zoando com minha cara.

Mas não é que minha mãe fez uma tatuagem?

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Agosto de 2007. Fui retocar a porra toda. A tattoo da perna me custou três longas sessões no período em que foi feita, mas faltava retocá-la, consertar detalhes. João, quando viu a do braço, achou que precisava de uma segunda mão também. Vamos nessa.
- Quero sair daqui com alguma novidade, já estou na seca de traços novos.
- O que você quer?
- Aumenta a do braço.
- Com o quê?
- Uma borboleta, mais bolinhas, mais tracinhos.
- Vai ser na mão direto também, tá?
- Lógico, o braço é todo seu.

E o meu sopro cresceu.

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A frase-título é de minha tia Beth, achei o máximo quando ela disse isso, hahaha.

5 de agosto de 2007

Saldo de um fim de semana

Sexta-feira.
Fase 1: Boteco no Politeama. Cervejada.
Fase 2: Dinha. Mais cerveja e minha primeira clássica dose de vodca com gelo.
Fase 3: Póstudo. Mais cerveja, mais duas clássicas doses de vodca com gelo e dois deliciosos miolos de macaco.

Uma amiga ficou com um ginecologista. Deve ser uma experiência interessante.

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Sábado.
Fase 1: Reunião de trabalho das 16 às 20 horas.
Fase 2: Fofoca na casa do amigo, colocando o papo em dia. Uma única cervejinha.
Fase 3: Dinha. Outra única cerveja.
Fase 4: Passagem relâmpago no Salvador Dali.
Fase 5: Boomerangue. Duas clássicas doses de vodca com gelo. Quatro cervejas.

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- Qual a sua idade?
- Vinte e um.
Falou com certa segurança. Eu ri de canto de boca.
- Hum, vinte e um...
- E você?
- Tenho vinte e seis.
- Ah, é novinha ainda!
Resposta típica de quem me achou velha e quis ser simpático.

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Vou embora.
Vou me aproximando do carro e a cena, de longe, já revela o ocorrido: há um pneu no banco do carona. Fodeu. Abro a porta, vidro para todo lado. Tudo revirado. Todos os CDs roubados. Banco solto. Painel remexido, tudo empenado. Mais uma vez tentaram levar o som, mas ele é anti-furto, não sai nem com a porra, bem feito para eles. Respiro fundo, quando é a quinta vez que isto acontece nem assusta mais. Passa o carro da Set. Gritei, saltaram, olharam, "nos siga", me levaram para a delegacia, não sei para quê. Dei queixa. Depois, voltei ao carro arregaçado e o cara da Set se aproxima para se despedir. Agradeço e ele me passa a mão no ombro e pergunta se quero companhia para voltar para casa. Recuso. Ele pergunta se estou bem. Digo que sim. A mão do ombro desce para o braço e ele conclui: "Ok, gata, tenha uma boa noite. Qualquer coisa, grita de novo". Eu mereço.

1 de agosto de 2007

Liberal Libertário Libertino em Salvador

Alex existe de verdade. Esteve aqui comigo, na minha casa e perambulando pela cidade, durante cinco dias. Foi ótimo, haja história pra contar, mesmo eu o tendo feito ir para uma balada do tipo que ele detesta, mesmo ele tendo me feito ir assistir a Duro de Matar 4.0. Eu o apresentei a Ernesto, Carol, Babs, Rafaela, Rabuja, Moniere, Fábio, Thiago, Dimi-Dimi, Luisão, Fernanda, Cury, Angelo e à minha família. Ele me apresentou a Drá. E nos juntamos, enfim, pessoalmente, a Marcela, o melhor presente que ele me deu. Ganhei um livro e um leque cubano. Fui à praia e tomei sol, um grande feito. Fofocamos horrores. Bebemos um monte. Falamos baixarias sem fim. Ele tirou foto de um monte de pés. Viramos algumas noites. Ele pisou em sorvete. Eu almocei várias vezes. Dançamos e cantamos. Conhecemos um ator global, fomos ao Solar do Unhão e ele nem lembra, comemos maniçoba no Pelourinho. Vimos uma Salvador gelada e chuvosa, muito chuvosa. Alugamos filme e comemos pipoca. Enchemos a casa de gente. Ele perdeu o vôo e voltou de ônibus, a esta altura está na 12ª hora de viagem. (Espero que chegue bem e inspirado, feliz de volta aos braços da Liloló, de quem ele fala sem parar.)
Ai, como a vida é boa.

O que se esconde

Eu já estou lendo isto há algumas horas, já li um sem número de vezes, e só agora estou começando a aceitar que, sim, o troço foi escrito pra mim.

Estou há um tempão tentando entender que raio de atitude eu demonstro para que alguém reconheça em mim algo tão forte e bonito. Fiquei orgulhosa e com medo. O que existe em mim de ser dito deste jeito me custa um preço alto, que pago às vezes de maneira muito dolorosa. Não é simples ser o que se quer, muito menos é simples descobrir o que é que se deseja, de fato.

, você me causou um rebuliço enorme.

20 de julho de 2007

Conflito de gerações

A minha mãe adora farofa, mas come um tiquinho só, coloca no canto do prato e mela a garfada como se melasse com pimenta. Eu também adoro farofa, mas para mim ela precisa de uma quantidade proporcional ao banquete, encho e como com gosto. Eu digo isso para a minha mãe sempre, mas é em vão: toda vez que ela prepara um prato ou uma quentinha para mim, a farofa vem num cantinho quase imperceptível, que não dá para nada.
Não tem jeito. Tem coisas que a mãe da gente não entende.

9 de julho de 2007

Kinsey

Vô,
talvez você não saiba, mas sou uma pessoa bem chata quando o assunto é filme. Eu quase nunca gosto muito de um, quase sempre acho que perdi tempo. Não consigo bem encarar esta arte como entretenimento, não vejo nada de divertido naquele ritual de ir para o cinema, como se fosse uma opção de programa como outra qualquer. Bem, talvez eu seja mais do que chata, talvez isto soe pedante, talvez eu seja caxias demais com algo que nem exigiria postura alguma, sei lá. O fato é que filme tem que me dizer alguma coisa, tem que falar comigo e me emocionar de alguma maneira. Já viu? Sou exigente. E autoritária. Estou brincando: este é apenas meu modo de ver, eu só gosto do que eu gosto e pronto. E, deste jeito, para estes raras obras que me tomam, eu dedico um amor profundo.
Eu vim lhe falar isso por um motivo simples: preciso que o senhor me liste todos os filmes que te causaram espanto, ojeriza e desgosto. Não, não quero aqueles que você não gostou porque são ingostáveis mesmo, os idiotas que tratamos com indiferença - quero saber exatamente os que não foram indiferentes, os que mexeram de verdade com sua antipatia. O motivo disso? Vou explicar: toda vez que fui assistir a um filme que lhe causou repulsa, eu fiquei apaixonada. Estou encantada. O fato de o senhor ser crítico de cinema não confunde o fato de que temos idéias completamente opostas. E, tendo esta sua lista em mãos, certamente vou me esbaldar até lamber os beiços.
A propósito, agradeço por ter me indicado Kinsey deste seu jeito tão peculiar. Que filme belíssimo!
Um beijo,
sua neta.


[Mais um texto tirado do baú, escrito em novembro de 2005.]

28 de junho de 2007

Ignore

Hoje eu não estou boa de sentir amor, nem de decidir sobre minha vida, nem de dar início às pendências que me perseguem há dias. Hoje não estou boa de aceitar convites, nem de fazê-los, nem de pensar no fim de semana. Hoje não quero ver minhas contas, mas preciso, hoje não quero produzir, mas preciso, hoje não queria ficar no computador, mas preciso. Minha cama me chama, uns desejos me chamam, a vontade de fugir voltou e o dia da terapia parece estar tão longe, mesmo sendo amanhã. O tempo, mais uma vez, urge, eu o detesto. Não há calmante nem injeção que tenha me feito sentir menos a agonia de um dia em que tudo fica rígido. Eu também odeio textos deste tipo.

18 de junho de 2007

Dezoito de junhos passados

Vez ou outra, releio coisas que escrevi no passado. Pode ser em diários, agendas, cadernos, anotações, arquivos no computador ou nas inúmeras páginas onde estão os textos dos blogs antigos que tive.

Hoje, li coisas que publiquei no dia 18 de junho de tantos anos que se foram por aí.
Vou dividir duas delas.

Em 18/06/06
Machucados

Era um menino esperto e livre, gostava de andar de pés descalços e sujá-los a ponto de marcar o chão com suas pegadas. Ele dançava e pulava de repente, porque se sentia às vezes inspirado por emoções que simplesmente deixava virem. Apesar de criança, sabia o que queria e entendia o que trazia por dentro. Só tinha medo de ter medo, seu desafio era este. Não recuava, não deixava de se ver e não deixava de dizer. Reclamavam de sua teimosia e boca suja, porque acontecia de surpreender com escândalos e brigas sem fim. O menino achava aquilo injusto. Não podia ser condenado por ser birrento, era apenas verdadeiro.

O menino agora homem traz consigo sua infância. Ele a mostrava inevitavelmente, gostava muito de ser assim. Era o que trazia de mais precioso e queria preservar os traços mais institivos e honestos de sua personalidade.

O menino, agora homem, só não sabia que tantas coisas iriam obrigá-lo a endurecer.


Em 18/06/05
Rave entre amigos

No sonho, ela sentiu muita vontade de dar beijo na boca. Era vestígio do álcool e de sua pulsões internas - porque a bebida deixa todo mundo mais assanhado mesmo e não ter que podar os desejos fazia a menina se sentir enormemente viva, como precisava. Então dançou como há muito não fazia, de olhos fechados, batendo os pés no ritmo das estocadas nos ouvidos, sem passo certo, até a perna doer. Rindo e se divertindo a la cenas cinematográficas, daqui e dali dava uns beijos em boca de mulher e de homem, misturados entre gargalhadas loucas e novos pulos. E goles de vinho. E brincadeiras descompromissadas. E inveja alheia. A energia que se fez despertar, que não veio do outro, mas fluindo dela para ela mesma, quase incomodou o sono, apesar de ser sonho. Quando o olho abriu, ela pegou rápido o telefone e contou baixinho as estripulias da viagem noturna. O prazer não era de sexo, não era isso. O prazer era do novo, do livre, do amor que permite.

31 de maio de 2007

Alguma coisa acontece no meu coração

Aos vinte anos, eu ainda não conhecia o Rio de Janeiro. Uma grande amiga minha estava morando lá e, em uma conversa por telefone, ela disse: venha me ver, venha para meu aniversário. Eu, de supetão, confirmei: eu vou. Entrei no site, comprei passagem e gritei durante meia hora de tanta felicidade. Não planejei nada, não reservei dinheiro, não sabia onde ficaria hospedada, apenas estava ali, com passagem em mãos. E fui.

Eu tinha loucura de conhecer a cidade maravilhosa. E, lá, eu passei todos os segundos hipnotizada por tamanha beleza, vibrando com cada vista, babando cada lugar, curtindo cada detalhe. Foi uma viagem indescritível. Fiz todas as farras, todos os programas de turista e ainda assisti ao show de Eric Clapton. Surreal. Poucas vezes na vida tive dias tão felizes, livres e legais. Ainda carregava a satisfação única de estar fazendo tudo aquilo com meu próprio dinheiro. Minha primeira viagem bancada pelo suor do meu trabalho. Foi lindo.

[Feliz da vida, como vocês podem ver.]

Aos vinte e quatro anos, eu ainda não conhecia São Paulo. Meu pai decidiu que queria fazer uma viagem legal com a mulher e os quatro filhos, pela primeira vez. A gente já tinha ido para coisas ali na esquina, mas todos juntos, gato, cachorro, periquito e papagaio, pegar mala, avião e ir para outra cidade, nunca tinha rolado. Então ele decidiu: vamos todos pra Sumpaulo.

Eca. Eu não tinha interesse algum de conhecer São Paulo. Achei uma escolha ruim, mas, enfim, vamos nessa, viajar é sempre bom, lá vou eu aguentar tijolo, cimento, trânsito e poluição. Ao contrário do que aconteceu quando fui ao Rio, saí de Salvador meio de nariz virado, não era a coisa mais animadora do mundo.

Me fudi. Eu amei cada segundo de São Paulo muito mais do que amei o Rio de Janeiro. Me senti completamente à vontade, em casa, fiquei encantada. Voltei fã, voltei querendo ficar.

[A família reunida na Paulista.]

Alguns disseram que tanta satisfação era fruto de eu ter ficado pouco tempo, cinco dias, em época de feriadão, cidade vazia, como turista, só vendo o lado bom. Pois bem: sete meses depois, fui para "morar". Foi por pouco mais de um mês, mas não como turista. Fiquei na casa de meu primo, trabalhei na Avenida Paulista, aprendi horários dos ônibus, fazia mercado, tinha uma rotina de moradora. Voltei mais fã ainda, voltei mais querendo ficar ainda.

[Almoço com o querido povo do trabalho no dia da minha despedida! Snif, snif...]

São Paulo me fascina. Tanto que me sinto em abstinência permanente, desde que cheguei eu quero voltar lá, nem que seja para dar uma volta nas ruas e sentir o cheirinho da poluição, nem que seja para só uma vez saltar em uma estação qualquer de metrô e sair andando sem rumo, descobrindo pequenos tesouros pelas ruas.

Faltando dois dias para completar meus vinte e seis anos, Arturo me chamou de novo: vamos, peste, vê se dá para você ir. E eu, que já havia algumas vezes negado participar desta viagem dele, programada há tempos, decidi: eu vou. Entrei no site, comprei passagem e gritei durante meia hora de tanta felicidade. Não planejei nada, não reservei dinheiro, não sabia onde ficaria hospedada, apenas estava ali, com passagem em mãos. E vou.

São Paulo, semana que vem, depois de quase um ano, a gente se encontra e mata as saudades. Me aguarde.

24 de maio de 2007

Love of my life, don't leave me

No máximo em julho, eu vou me casar.
Preparem a champagne.

Soube há um tempo, assistindo ao programa Top Top, da MTV, que Freddie Mercury foi casado. Com uma mulher. Não lembro detalhes, mas o que registrei das informações dadas foi que ela era o grande amor da vida dele, com quem ele dividiu tudo, até o último dia, a confidente e parceira, a que segurou as pontas e a quem ele deu colo. Foi para ela que ele compôs Love of My Life. Eles namoraram, segundo consta, mas, também segundo consta, a relação nada tinha a ver com isso. Isto é apenas um detalhe: eles namoraram, mas poderiam não tê-lo feito. Eles não trepavam. Não se desejavam. Mas eram apaixonados um pelo outro e foram marido e mulher mesmo depois de terem desfeito os papéis. Ela foi o porto seguro dele sempre: nas questões da vida, da música, da carreira, dos amores, paixões e fodas, da doença que o matou. Viver lado a lado e encontrar a alma gêmea não é uma questão de sexo.

Eu e Arturo vamos morar juntos. Estamos mexendo os pauzinhos e sonhando com nosso apê lindo e fofo. Na verdade, a gente poderia estar buscando meios de cada um morar sozinho, no seu canto, como ele até já faz hoje em dia. Mas a gente quer mesmo é morar junto, ter a companhia um do outro. Um casamento entre amigos.

A gente já experimentou dividir espaço por tempo mais longo em duas viagens que fizemos juntos. Em uma, num muquifo lá em Boipeba, o quarto era cheio de baratas e eu botava ele para matar todas. Ter um homem por perto é ótimo. Na outra, em Sauípe, eu quis matá-lo cem vezes porque ele é a pessoa mais chata do mundo. Metia o dedo na última batata frita do meu prato, me filmava dormindo e me azucrinava sem parar. Resumindo: minha cara-metade.

Além disso, convivemos e nos vemos quase diariamente desde que nos vimos pela primeira vez: já estudamos juntos, agora trabalhamos juntos, tudo no meio da nossa vida social, que se entrelaça totalmente. Sem contar telefone, msn, Orkut, mensagem de celular... A gente não se desgruda.

Não tenho absolutamente nenhum segredo com Arturo. É um saco, porque ele me olha de canto de olho e sabe o que estou pensando. Aí a gente ri junto, fala merda, bebe, vê seriados, dá conselhos, ouve histórias, confessa o inconfessável, fala das intimidades mais íntimas, canta, dança, faz farra, se apóia, se incentiva, se admira, filosofa sobre a vida, cria teorias, analisa as coisas, se lamenta, chora... A afinidade que tenho com ele é incomparável, a gente se entende em tudo. Eu pego, esmago, dou beijo, dou tapa, mordo e lambo. Ele tira meleca e passa em mim. Arturo me pentelha o tempo todo, fica dizendo que eu pareço com uma feiosa aí, puxa minha calcinha no velho estilo cuecão, filma os meus maiores micos, esculhamba tudo. Somos o casal mais apaixonado que conheço.

Só espero que, quando eu ficar viúva, ele me deixe uma fortuna tão grande quanto Freddie Mercury deixou para Mary Austin.

[Mary e Freddie, lindos.]

P.S. 1: Haha, ele vai achar tudo isto ridículo. Babação de ovo não é a nossa, mas, pô, amore, você sabe que te amo loucamente.
P.S. 2: Que droga, Tuca, vê se depois de tanta rasgação de seda você tira aquelas fotos horríveis minhas do seu Orkut, peço isso há quantos anos mesmo?

18 de maio de 2007

Maioridade

Alex propôs o desafio já há um tempo, eu lembro de ter achado interessante, mas nada escrevi. Hoje, ele me mostrou o texto de novo e eu decidi fazer a viagem no tempo...

COMO FORAM OS MEUS 18 ANOS

Tenho boa memória, lembro de histórias com detalhes assustadores, sei reconstruir tudo de todas as coisas, mas não me veio à mente, de imediato, casos específicos ocorridos nesta idade. Mas tenho uma ferramenta que fui buscar no baú. Pois sim, fato número 1: aos 18, eu fazia diário. E ele está guardado, intacto, até hoje, junto com muitos outros.

Abro a capa e me deparo, de cara, com um adesivo. "Juventude é Lula Presidente, o Brasil para todas as tribos". Àquela época, eu realmente achava que Lula mudaria o mundo. Votei com fé.

O ano era 1999.

Acordei no dia 26 de abril na maioridade. Lembro de ter achado isso muito interessante. Fui de manhã cedo para a primeira aula de um curso básico de computação. Eu estava em férias de um semestre inteiro. Havia sido aprovada no vestibular, no início do ano, para o curso de Psicologia, na Ufba. Mas passei para o segundo semestre e fiquei seis meses inventando o que fazer. Esta foi uma das coisas mais legais de minha vida. Férias, férias, seis meses de férias.

Passei a tarde do meu aniversário em um salão. Usava cabelo comprido desde sempre e fiz um corte radical. Curto, com mechas vermelhas e cor-de-mel. Estava magérrima. Aquele corpinho eu nunca mais vi, mas o corte ficou até hoje. Desde então, meu cabelo nunca mais passou dos ombros. À noite, teve um jantar para amigos na casa do meu pai. Aparecer uma drag queen em uma festa para fazer piada da cara do aniversariante era coisa super nova, e eu achei o máximo quando a perua surgiu do nada.

Quatro dias depois, ganhei meu primeiro celular: um tijolão que tinha sido de minha mãe. Aquilo era uma arma. E, já em 99, era ultrapassadíssimo, passei muita vergonha por causa dele.

[São João aos 18, em Senhor do Bonfim. Com Nanda prima, Verônica e Nanda Sarno.]

Eu namorava. Namorava desde os 16. Era apaixonadinha. Tem um milhão de corações espalhados na agenda. Eu usava aparelho. Aparelho transparente. Não percebo muita diferença entre o antes e o depois, mas meu pai, dentista, achou que era bom eu usar. Topei, mas tinha de ser transparente, porque não queria boca de lata.

No dia 8 de junho, vivi pela primeira vez a morte de uma pessoa próxima. Meu avô paterno faleceu. Foi tudo muito triste, mas minha família por parte de pai tem uma alegria tão legal que, depois do sepultamento, fomos todos ficar juntos lá em casa - todos os tios, primos, amigos próximos, sem deixar a dor ser maior que o amor. Ficamos dois dias seguidos assim.

Ganhava mesada e tinha de viver com o que ela dava. Eu fazia curso de teatro, fiz por muito tempo. Nunca pretendi ser atriz, mas me divertia bastante com aquilo. Larguei o hobby aos 18 mesmo. Tirei a carteira de motorista. Fiz um curso de formação em massoterapia. Fiz um curso de respiração. Fiz também um de formação para ser professora de Inglês. Fui atacada e mordida por dois cachorros de uma vez. Conheci Paulo Afonso, a cidade onde meu pai nasceu. Ele levou os quatro filhos para verem cada cantinho de sua infância. Eu achei tudo um saco, eu era ainda mais mal-humorada do que sou hoje em dia.

As minhas aulas de Psicologia começaram em 9 de agosto. Eu amava algumas disciplinas, detestava outras e nunca consegui chegar no primeiro horário. Estar às sete da manhã dentro de uma sala de aula já era problema aos 18. Albergaria, meu professor de antropologia, me abriu os olhos para um monte de realidades. Ele é um símbolo deste momento. O primeiro semestre do curso foi revolucionário. Cresci em seis meses o que não havia crescido em 18 anos. Conheci amigos especiais; questionei coisas importantes. As consequências não demoraram a surgir. Comecei um termina-e-volta com o namorado. Descobri lugares e pessoas e livros e teorias. Fui enlouquecendo em diversos sentidos.

No dia 23 de dezembro de 99, assisti ao meu primeiro show dos Los Hermanos. Num lugar chamado Manatee, que era breguérrimo, para pouquíssimas pessoas. Aliás, até que estava cheio, mas, depois de a banda tocar Anna Julia, todos correram para o espaço da boate. E eu fiquei, grudada no palco baixinho, que deixava a banda quase à altura do público, com uns gatos pingados, cantando todas as músicas de trás para frente. Foi lindo. O amor pela banda não morreu aos 18, acho que não vai morrer nunca.

Foi também aos 18 que fui pela primeira vez ao Calypso, o refúgio mais clássico do rock em Salvador. E fui mais e muito mais vezes depois, sempre com amigas que queriam me botar no mau caminho. Eu fazia farra pra caramba, um monte de doideiras. Não tanto quanto hoje, mas fazia. Festa particular à noite na praia, viagens de galera (a de Morro de São Paulo com duas amigas lindas foi inesquecível), shows sem fim, muitas madrugadas, muitas cervejas, carnaval... Ia para cima e para baixo, toda independente, não contava caso para nada. Pegava meu buzu e lá ia eu. Só que era uma menina muito bem-comportada. Mesmo. No drugs, beijo em uma boca só (só abri exceção no carnaval, sou baiana, ora bolas), várias notas 10 na faculdade. Uma lady.

[Morro de São Paulo, com Tissi. Delícia de viagem. Dá para ver meu aparelho transparente? Dá? Dá?]

Eu tinha um bilhão de dúvidas, um bilhão de idéias. Comecei a ter consciência de minha própria vida e a querer estipular os moldes de como eu gostaria de viver. "Isto me faz feliz, isto não me faz feliz". Eu todo dia achava que estava mais madura que no dia anterior, cheia de coisas borbulhando na cabeça. Uma verdadeira menina de 18 anos.

Não sei se sinto saudades ou se acho ótimo isto tudo ter passado.
Prefiro meus 26, prefiro muito, mesmo querendo ter feito tantas coisas diferentes neste espaço de tempo que me separa dos 18.

11 de maio de 2007

Combinação

Admirar pessoas é uma delícia. Talvez por não ser algo que acontece sempre, talvez porque servem de referência, talvez porque é bom descobrir tesouros, talvez porque eu sou osso duro de roer.

É uma viagem.

É uma verdadeira viagem descobrir razões em pessoas pelo mundo para que se tenha motivos de achá-las "especiais".

Estou revisando o livro de Cury. Tem sido um trabalho árduo, porque tenho dedicado muito carinho e horas à tarefa - haja noites viradas, em meio a tantas outras ocupações -, mas tem sido maravilhoso. Nas primeiras páginas, na introdução que ele fez, estava lá meu nome, como "uma das escolhidas" para fazer parte deste processo. Eu babei meia hora em cima da puxação de saco que ele fez. É como o próprio falou em algumas páginas depois: Cury era fã convicto de uma banda e, belo dia, foi convidado a compô-la. Sobre o episódio, ele disse algo do tipo: "não há emoção maior"...

E não há mesmo.
Neste sentido, tenho vivido umas coisas realmente emocionantes, e não existe palavra que melhor defina a sensação.

Quando Cury decidiu que iria realmente pôr em prática o projeto do livro, eu fui e me ofereci. Ele foi e aceitou. Eu fui e fiquei sem nem como dizer. Ele foi e levou lá em casa, num envelope com meu nome, o impresso original. Eu fui e disse o quanto estava feliz por isso. Ele foi e me deu de presente um manual de redação fantástico. Eu fui e ainda estou indo em meio às histórias do meu querido Cury.

É uma coisa doida esta, de você conquistar a confiança e de sentir alguma reciprocidade de pessoas que você admira muito. Ricardo Cury é, talvez, mais osso duro de roer do que eu, mas sei que ele sabe o quanto o admiro, o quanto o acho fantástico. De todas as pessoas que conheci através de Angelo, ele é, de longe, o mais querido. E já ultrapassou a barreira de ser o amigo do namorado. Cury é sensato, honesto, sangue bom. Além de inteligente, bonito e instigante. Cury me deixa cheia de pulgas atrás da orelha e acho isso ótimo. Gente que desperta curiosidades é a melhor coisa do mundo. Estou infinitamente feliz por estar metendo meu dedo num projeto dele, mesmo ele dizendo lá no próprio livro que acha o meu trabalho uma bobagem...

Tem também a maior banda de rock da Bahia na atualidade. Sou fã confessa deles. Eu ouço e re-ouço as músicas e não canso. Poucas coisas são melhores do que Queda Livre e Gigante para meus ouvidos (e outras tantas mais...). Canto sempre como se fosse a primeira vez. Acho Fábio genial em suas composições e sempre soube quem ele era. E ele só soube quem eu era, e talvez nem lembre disso, quando, no fim do ano passado, o recebi para uma entrevista na TV. Junto com os outros três integrantes da Cascadura.

E, então, há uns meses, por caminhos que esta vida nos leva, Fábio e Thiaguinho me chamaram para fazer a assessoria de imprensa da banda. Era a minha mais pura explosão de felicidade, fazer parte desta equipe é uma realização que eu nem projetava. Mais que isso: conhecer os meninos mais a fundo tem sido incrível. Eu já nem sei dizer o quanto gosto e admiro eles. É demais. Fábio é foda. Fábio é um gentleman, cheio de idéias, cheio de histórias, cheio de qualidades: digno, batalhador, talentoso, atencioso. Thiago é a coisa mais querida do mundo. É um amuleto de boa energia, sua mente não pára e sua atitude perante a vida me inspira - e ainda me deixa hipnotizada. Candinho e Tiago Aziz ainda estão sendo descobertos, mas também são ótimos. Me sinto privilegiada ao extremo. Engraçado que, no meu aniversário, Fábio escreveu que me admirava... Bobo... Este papel é meu.

A história de "recompensa" mais forte, no entanto, vem de Alex. Porque Alex me deu um trabalho da porra. E porque eu sou a fã mais abestalhada que ele tem.

Foi assim: quando eu era colega de Arturo e Érica, entre nossas fofocas diárias, falamos de blog. Àquela altura, não era algo que todo mundo tinha. Mas eu tinha, Arturo também, e Érica decidiu que iria ter. Um dia, algum deles me apresentou ao LLL. Eu acho que foi Arturo, Arturo disse que foi Érica, mas eu acho que fui eu que mostrei Alex a ela... Enfim, não sei mais dizer quem mostrou a quem.

Acontece que, de mansinho, eu me apaixonei. Comecei lendo aqui e ali e, quando vi, estava viciada. Estou viciada há quatro anos. Leio sempre, tudo - menos as resenhas chatas de livros; não quero saber dos livros, quero saber dele mesmo e pronto. Vez ou outra, eu passei a comentar as escritas. Depois, pulei para os e-mails - e Alex não me dava a mínima, nunca respondia a nada. Eu não ligava muito, porque eu me sentia satisfeita por fazer minha parte. As argumentações de Alex me deixam admirada. Profundamente. Os textos das prisões são uma das coisas mais legais que já li na vida. Passei a citá-lo em minhas conversas. Passei a aprender com ele. Uma clara referência do que quero ser quando crescer - não tão pervertido e desmiolado, mas tão livre quanto... E, vejam só, belo dia, ele me respondeu. Me deu meia-bola. Monossilábico, mas deu sinal de vida. E até cedeu um de seus textos para o falecido NúmeroG, da falecida Letrasete.

Foi um avanço vê-lo publicar histórias de minha vida, que eu contava para ele com intimidade, em seu blog - cheio de disfarces, trocando nomes e endereços, eu só dava risada, esse Alex... Então ele me adicionou no msn. Quis saber mais de mim (só que Alex quer saber mais de todo mundo, ele é um compulsivo por histórias de gentes todas, isso não dizia muito).

Então, sei lá mais como, sei lá mais porquê, ele me concedeu confiança e me tomou como cúmplice de segredos e de publicações protegidas e de assessora de imprensa de seu trabalho. Não fomos muito à frente com a tarefa (apesar de eu estar disponível para qualquer uma que vier), mas demos passos largos na amizade.

Outro dia, ele me apresentou a Marcela, esta coisa de doido, pelo msn. Uma conversa a três. E disse: "quero ir a Salvador única e exclusivamente conhecer vocês duas". Marcela, não sei de você, mas eu me senti a mulher mais maravilhosa do mundo depois de ouvir isso. Alex está chegando e estou ansiosa pelas massagens nos meus pés. Poucas pessoas no mundo merecem tanto minha admiração quanto ele merece.

Voltando ao início: admirar pessoas é uma delícia. Admirar e ser admirada é sublime.

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P.S.: Quando fui contar a Arturo, toda feliz, o que Alex tinha dito sobre sua vinda a Salvador, Arturo me olhou com cara de desprezo... Pensei, sobre meu amigo que desdenha das coisas, "ih, lá vou eu levar bronca". E ele disse: "Paula, você é mesmo uma boba. Não sei porque você se maravilha com isso. Você é uma das pessoas mais interessantes que alguém pode conhecer, isto é absolutamente normal". Ai, meu Deus, eu amo Arturo mais que tudo.

2 de maio de 2007

Capão de botas

7 de setembro, no ano passado, caiu numa quinta-feira e foi aquela coisa: todo mundo enforcou a sexta e virou feriadão, ótimo para viajar. Rolou de o Capão nos chamar loucamente, a gente tinha de ir e pronto. Mas, dentre outros motivos menos importantes, uns amigos queridíssimos meus chegariam de Sampa no dia 8, e eu queria vê-los, iria ficar puta se eles passassem por Salvador e a gente não se visse. Então convenci Angelo e nós compramos a passagem para o sábado de manhã cedíssimo e voltaríamos no domingo, de noitão tardíssimo. Só a gente mesmo para topar ir para o Capão num dia e voltar no outro. Enfim. Conseguimos reservar duas camas num quarto de albergue, tudo certo.

Dany, Paty e Marreco, meus troços do meu coração, resolveram embarcar na parada. Estava todo mundo sem grana e calhou perfeitamente: para ir num dia e voltar no outro, o gasto seria pequeno e eles aturariam nem dormir, caso não arranjassem onde se encostar. Eles prepararam tudo: fizeram mercadão com cheque ultra-pré-datado, com tudo que era necessário para a viagem, para a fome e para a bebedeira, separaram isopor, colchão, travesseiro, o escambau.

Na sexta à noite, enquanto Dany, Paty e Marreco arrumavam o carro e o transformavam num quarto de hotel de luxo, eu e Angelo saímos com os amigos de Sampa - isso depois de eu ter passado o dia inteiro com eles, das dez da manhã às oito da noite, mostrando a cidade, de Itapuã a Bonfim, parando em todos os pontos clássicos. Os levamos ao Póstudo (amigo meu que vem conhecer meu mundo tem de conhecer o Póstudo) e, papo vai, papo vem, desce cerveja sem fim, oito mil rodadas de miolo de macaco, rosca, aquela farra. Como sempre acontece (e eu nem sei como eu volto ao Póstudo se reclamo tanto do atendimento de lá), fomos interrompidos pela conta sendo posta em cima da mesa, sem ninguém pedir. O bar fechou, fomos expulsos e, claro, eu queria mais: vamos pra onde?, vamos pra onde?

Ninguém se animou, os paulistas estavam exaustos, Angelo só falava do ônibus que sairia às seis da manhã. Ok. Deixei os meninos no hotel e avisei a Angelo, toda querendo mais: "Se formos para casa, teremos duas horas de sono e você sabe que eu não vou conseguir levantar, é melhor a gente dar virote e ir direto, vamos beber mais em algum canto, vai ser ótimo porque vamos dormir a viagem inteira". Ele discordou. E se comprometeu a me arrancar da cama - um trabalho e tanto. "Ok", eu disse, "então vou dormir, você quem sabe, vai dar merda isso...".

E deu. Quando abri o olho uma hora lá de manhã por sentir que algo estava estranho, Angelo estava me olhando com cara de "fudeu". Já ia dar oito horas. Merda!! Eu sabia!!!

Liguei correndo para Dany, sem muita esperança porque eles tinham dito que sairiam antes do amanhecer. "Amiga, você já está na estrada??". E, eba, eles também tinham dormido mais do que pretendiam e estavam de saída àquela hora. E eu: "Dany, pelamordedeus, perdemos o ônibus, podemos ir com vocês?".

Ela foi reticente: "Te ligo daqui a pouco, pode ser? Vou falar com Paty e Marreco". Depois que ela retornou a ligação, disse: "Amiga, falei com eles, não dá. O carro está todo montado, cada coisa em seu canto, passamos horas encaixando tudo para caber, estamos cheios de coisa, não tem espaço mesmo, impossível". Ok, fazer o quê? Quase choro, mas o jeito era me conformar. Então Marreco me ligou: "Nada disso, a gente tira o que for preciso do carro, me dê dez minutos, vou rearrumar tudo". Aí, confirmada a possibilidade de enfiar eu e Angelo no Fiesta de Paty, Dany avisou: "Mas tem o seguinte: não dá para levar mala, nem mochila, não cabe. Traga uma sacolinha de mão com o que for indispensável. E rápido, estamos chegando aí".

Eu e Angelo corremos: abrimos a nossa linda malinha toda arrumadinha, arrancamos uma camiseta e uma bermuda cada um, calcinha e cueca, escova de dente e uma toalha. Vestimos calça, que era mais complicado de levar e que poderíamos querer na noite fria do Capão, e amarramos casaco na cintura. Sapato, só o do pé. Enfiei minha bota. Vamos nessa.

Foi um dos melhores fins de semana de minha vida. Mesmo fazendo a trilha da Fumaça com bota de cano alto, mesmo sem shampoo, mesmo com o aperto do carro, mesmo dormindo de calça jeans com uma mulher doida pelada no quarto do albergue. Foi indescritível. Maravilhoso.

Ah! Também fiquei feliz por ter lembrado de levar o sutiã, porque pude tomar banho na trilha sem criar qualquer tipo de escândalo.



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Fotitas, fotitas, fotitas: