14 de março de 2007

Debutante

Meu pai, como de costume, veio me buscar em casa no sábado de manhã para eu passar o fim de semana com ele. No carro, conversamos bobagens até que ele tomou coragem e falou:
- Tenho uma surpresa para você.
E eu soube na hora do que se tratava:
- Já sei.
- Já sabe? O que é?
- Já sei sim. Cecília está grávida.
- Nossa! Isso aí! Não é legal? Cecília está grávida!

Eu não disse nem que sim nem que não. Fiquei quieta, calada. Até hoje não sei como eu soube que a surpresa era essa, ninguém nem falava neste assunto, não havia nenhuma expectativa minha quanto a isso. Eu simplesmente entendi na mesma hora. E foi tão natural e óbvio que nem fiquei feliz nem nada. Parecia uma notícia qualquer. Cecília está grávida, pronto. Grandes coisas. Tive uma atitude de total indiferença, apesar de ter esta cena gravada na memória com uma nitidez enorme, lembro até onde o carro estava passando na hora da notícia.

Ao chegar na casa de meu pai, fui para o quarto brincar com meu irmão. Cecília estava em casa e parou na porta. Eu só disse "oi". Meu pai mandou:
- Dê os parabéns dela! Ela vai te dar mais um irmãozinho.
- Ah, tá: parabéns.
Levantei, dei um abraço nela e um beijo na barriga.

Acho que foi nesse exato instante que eu me apaixonei. Passei nove meses grudada naquela barriga, vibrando, torcendo, amando. E eu tinha certeza de que seria uma menina. Eu e meu irmão Pedro decidimos que a família deveria seguir a regra e colocar nela um nome iniciado com a letra "P". Nem demos chances de ninguém escolher nada, porque passamos a chamá-la de Patrícia e pronto. Fiquei viciada. Patrícia, Patríca, Patrícia. Sonhava com seu rostinho, imaginava o que iríamos fazer juntas, conversava horas com a barriga, ficava sentindo os chutes, ajudei a escolher o enxoval, arrumava o quartinho dela, só falava neste assunto. A minha ansiedade era a maior da família, eu não aguentava mais esperar o nascimento.

Então, no dia 14 de março de 1992, meu pai ligou para minha casa:
- Quer conhecer sua irmã? Corre para cá, ela nasceu.

Desci louca pela rua, gritei Pedro, que estava brincando com uns amigos, e fomos em comitiva, uma meninada enorme, conhecer a minha irmã. Pat nasceu numa clínica que ficava na minha rua, fomos correndo, eu nem acreditava, um êxtase sem tamanho. E quando vi aquele trocinho pequeno, vermelha que nem tomate, carequinha, com unhas enormes, totalmente indefesa, eu nem sabia o que fazer. Era a coisa mais linda do mundo. Do alto dos meus 10 anos, fiz dela minha boneca preferida, meu xodó, meu grande amor. Foi uma delícia.

Pat continua linda, uma garota cheia de virtudes, meu orgulho. Hoje, no dia do seu debut, olho para a minha loira de olhos azuis e penso em quanta felicidade ela já me proporcionou. Sou absolutamente fã, absolutamente boba. Adoro vê-la se transformar cada vez mais em alguém que desperta paixões instantâneas que, depois, se concretizam em formas mais sólidas inevitavelmente. Como acontece comigo a cada dia que a olho e sinto meu amor aumentar. Minha bonequinha é minha paixão eterna.

Parabéns, minha RIMÃ, pelos seus 15 anos.


Em 1992


Em 2007 (não é linda de doer?)

4 comentários:

  1. Coisa mais apaixonante, Paulinha!
    E ela é linda demais mesmo.

    Me pûs a pensar nestas várias etapas, no quanto é prazeiroso perceber a evolução dos que estão ao nosso redor, em como é satisfatório ver aquele troçinho crescendo e virando gente grande, já articulando pensamentos, já defendendo os seus ideais, deixando à mostra as suas particularidades, as suas minuciosidades tão encantadoras.
    Às vezes fico rindo bobamente escutando as coisas que minha sobrinha tem a dizer...
    Fico apaixonado assim como você.
    Bobo-bobo.




    Beijos bobões para a boboca da Paula!

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  2. caramba!

    eu, filho único, e que sempre quis um irmão só pra brigar e ter de fazer as pazes, senti uma invejinha branca...parabéns para as duas belas irmãs.

    saudade de tu paulete!

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  3. Muito lindo isso ! Exato, abra seu coracao diante de alguem que vc ama, alguem que trousse a ti algo novo, algo unico um sentimento ainda nao entao descoberto porem transparente e real...
    Da um beijo na sua irmazinha hoje que ja e uma mocinha e que Deus sempre mostre que um relacionamento forte e o caminho para uma alianca de fidelidade, respeito e amor mutuo entre irmao, amigos ou ate mesmo nosvos amigos... Vc me transmitiu paz com sua historia e isso sou grato !
    Bjs

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