2 de junho de 2009

Eu tenho uma camiseta escrita eu te amo

Minha história com Wander Wildner começa em São Paulo. Eu estava lá, numa temporada muito proveitosamente solitária de pouco mais de trinta dias, catando experimentar tudo e conhecer gente e zanzar o máximo possível por aquelas ruas cujos cheiro (ainda que poluído) e temperatura tanto me agradam. Era 2006. Clóvis, meu amigo carioca, quis contribuir para o meu processo de socialização e passou ficha completa de : fala com ela, marca com ela!

Precisei respirar fundo para fazer o que me parecia meio ridículo e procurei a menina. Eu tinha o e-mail, o telefone, o orkut, o msn, mas não lembro qual via escolhi para o primeiro contato. Só sei que depois do “oi” a gente ficou se falando por todos os meios para conseguir definir com segurança o quê faríamos juntas – e como seria a logística para que eu não me perdesse no ainda desconhecido mundo paulista.

Então ficou decidido que nos encontraríamos numa estação de metrô onde ela e o (agora ex) namorado estariam me esperando. Eu estava meio tensa com a situação de sair com desconhecidos, não por medo das consequências da velha instrução de não falar com estranhos, mas porque não sou boa nessas coisas de simpatia gratuita, de fingir que tô gostando, fiquei logo maldizendo, pensando no que faria se ela fosse uma chata, se faltasse assunto, se eu quisesse fugir.

Fiquei sentada num banco pensando se desistia ou não enquanto aguardava reconhecer em meio à multidão a menina que ela me descreveu ser. Ela usou um bom macete para ser facilmente identificada. Seguimos para o local do show, eu meio sem saber o que a fez escolher tal programa, mas não estava em condições de impor minhas más vontades.

Wander se apresentaria às 20 horas e a bilheteria seria aberta às 19. Chegamos antes para pegar lugar na fila, ainda que para mim aquilo tudo fosse estranho – chegar antes, horários pontuais, fila para ver Wander Wildner. Minha pequena veia jornalística me fez perguntar a razão de tudo e ela disse sim, o show começa pontualmente, sim, a fila se organiza com antecedência, sim, são poucos ingressos e devem esgotar, não, você não consegue pagar meia se não tiver carteirinha de estudante, como assim esta história de meia é institucionalizada em Salvador?

Quando nos reunimos com o resto da galera, mais um meio mundo de gente animada, seguimos para a fila e não contive a surpresa: nossa!, e não é que tem mesmo gente que quer ver esse cara! Comentário infeliz, estava rodeada de fãs, um deles se identificou e pediu respeito, o que é, menina?, Wander Wildner é rei. Ficou ofendido e balançando a cabeça, nitidamente indignado com minha ignorância.

Eu e minha turma de desconhecidos arrumamos um bom lugar na plateia porque entramos cedo. Nunca que eles correriam o risco de ficar longe da majestade. E eu cada vez mais chocada ao ver o lugar ser lotado com legítimos admiradores que eu não imaginava existirem.

Quem abriu a noite foi Juninho Bill. Yes, Juninho Bill, do Trem da Alegria, uma das minhas fulminantes paixões platônicas infantis, à frente de uma banda de rock cujo nome não gravei e que, como podem ver, não vingou. Não sei dizer se era boa ou ruim, se gostei ou não, porque eu só conseguia reparar no Juninho Bill crescido, reconhecendo nele os gestos, danças e traços do ídolo a quem assisti fazer bagunça no Chacrinha.

Eis que chega a hora de Wander. A despeito de todo traje surrealista que destaca a esquisitice de sua figura, ele veio tranquilão, estilo tô em casa, sem pose nem sinal de que eu pudesse estar certa – porque pensei que ele se surpreenderia com a atitude da moçada delirante, fiquei certa esperando a cara atônita dele diante daquilo, mas não flagrei nele nenhum vestígio de que fosse uma resposta fora de padrão.

Daí para frente, as minhas surpresas foram sucessivas: o povo em êxtase, o coro geral, a banda de coroas, a naturalidade, a baixista de botas surradas e cabelos lindamente curtinhos que cantarolava as letras escrachadas com simpatia e dançava de um jeito que eu involuntariamente passei a imitar. Quando dei por mim, eu estava sacolejando animada e me divertindo de modo incomum para quando me deparo com a apresentação musical de um artista que desconheço. Adorei.

De volta a Salvador, meu computador foi presenteado com parte da discografia do rei do rock brega, se é que isso existe e se cabe eu chamar assim.

No dia 9 de dezembro de 2007, Wander Wildner tocou no Festival BoomBahia e eu fui, animadíssima, disposta a fazer fila com antecedência, revê-lo. Fui na raça, porque estava na ressaca do dia anterior, mas me mantive firme e forte. Desta vez, além de Georgia Branco no baixo, tinha também outra dona moça na banda, a baterista Pitchu.

Na hora do show, subi num troço lá para ter visão privilegiada e espaço para exercer meus ímpetos cafonas incentivados. Num dado momento, durante uma balada facada-no-rim, bailei meu balé impecável, na ponta dos pés, no movimento de braços e mãos. Numa manobra da dança, virei para trás e vi uma criatura me olhando com cara de “que porra é essa?”. No susto envergonhado, saltei do meu posto e saí correndo em busca de comprar uma cerveja. Quando retornei, para meu vexame completo, estavam a tal testemunha e Rafaela, minha acompanhante naquele dia e em tantos outros, batendo papo. Nos instantes em que estive ausente, se conheceram não sei ao certo como, e Rafaela já estava apta a nos apresentar: Paula, este é Lubisco; Lubisco, esta é Paula. Houve algum comentário sobre minha bela dança e tratei de me afastar.

Wander Wildner voltou em abril de 2008, tocou no Pátio do Icba, e fui levar Minha Noiva para conhecê-lo, insisti que foram feitos um para o outro. Rir pouco é bobagem. Fantástico. Fantástico.

Sábado passado, eu estava andando em Dinha com Lubisco, que agora é meu-meu-meu, e me deparo com o cartaz:
- Baaaaaaaaaby, vai ter Wander Wildner! Vamo, vamo, vamo!




10 de junho, quarta, 23 horas (véspera de feriado)
Na Boomerangue
Wander Wildner - acompanhado por Ricardo Cury e Tiago Aziz!
+ Os Irmãos da Bailarina + Dj Cassicas
R$ 15