Salvador, 3 de dezembro de 2011: um dos momentos mais emocionantes e tremidos de minha vida!
Eu era uma coisa sambante, o papel pulava em minha mão, meus olhos nadavam em água, não sei como consegui ler, mas valeu a pena ser a porta-voz da união: uma honra!
Quando Cat me convidou para falar aqui representando os amigos dela, senti mais uma vez a alegria e o orgulho do privilégio de estar entre as pessoas de sua vida. O convite também me fez lembrar do meu avô José – uma das pessoas mais importantes da minha vida –, aquele que, em todos os eventos dos que amava, era quem se incumbia dos discursos, sempre tão verdadeiros e emocionados. Meu avô tinha o dom de fazer as palavras virarem histórias concretas diante dos olhos, era muito firme na defesa do que acreditava e só chamava de amigos aqueles por quem realmente mataria e morreria. São três coisas que tento honrar como herança. Então, que este texto espelhe este mundo de coisas tão bonitas que se abre para Lucas e Cat, e que continuará nos passos de uma criança ainda por nascer.
No verão deste ano, numa das tantas festas que agora já podemos chamar de despedidas de solteira, assisti meio de longe, meio de perto, à primeira conversa destes dois que hoje são noivos. Posso tirar onda e dizer que, desde sempre, eu avisei: é ele! Eu também vi, dias depois, o primeiro beijo – e o namoro começou ali, instantaneamente. Pois assim que foi. E foi assim que Lucas, num bilhetinho de aniversário para Catarina, consagrou, em poucas e certeiras palavras: “Linda, te achei!”. E pronto. Só isso. E eu nunca vi um bilhete mais bonito que esse. Porque não há nada que possa ser mais incrível e mágico do que reconhecer assim, clara e simplesmente, ter encontrado o grande amor.
Amor que se reflete em bem-estar, alegria e satisfação. Amor gentil, cuidadoso, carinhoso e agradável. Amor intenso e profundo que se revela em leveza e em sono tranquilo. Amor que reserva surpresas, mas que dispensa a ansiedade. Amor de ficar junto porque assim a vida fica melhor. Amor como há de ser: tornando duas pessoas mais felizes, mais inteiras, mais seguras, mais capazes. Eu vejo Cat e Lucas, no dia a dia, arrancando sorrisos um do outro. Eles se fazem bem. É assim que faz sentido.
Cat e Lucas são companheiros, parceiros e se escolheram, além de terem lindamente se apaixonado. O peito palpita, e a razão confirma: eis um casal. Porque ser casal, aos 30 e com um filho na barriga, também exige sensatez. Por isso, vê-los estar nisso com tanta certeza faz com que fiquem de lado questões de tempo, planos, mudanças. Já é certo e coerente. Já tem fruto. Já é uma grande história. Já é uma família.
A minha amiga Catarina é de uma integridade de dar gosto. Já escrevi isso para ela antes, e repito: não conheço criatura mais leal. É uma grande mulher, com disposição para o crescimento e para a vida. Firme e honesta. Inteligente e divertida. Que se reconhece bem e sabe, graças a Deus que ela sabe, que não merece nada menos que muito. É fato, Cat: você é merecedora desse dia. Dessa gente que te ama. Desta e de muitas outras celebrações pelo que o universo lhe retribui como presente.
Pois então, Lucas, você realmente achou um tesouro. E nós, amigos de Catarina, lhe recebemos de braços abertos porque você faz jus a este mérito. Que bom que ela também te achou! Que bom que você veio. Que bom que você é agora também nosso amigo. Que bom que você é o pai do filho dela.
Abençoo e aplaudo esta união com a competência de quem só deseja o melhor para vocês. É um consentimento meu e de todos. Se aqui houvesse um padre que questionasse se alguém tem algum impedimento a declarar sobre o casamento, eu perguntaria: está louco? Olhe para Cat e Lucas, olhe aí: só há fatores a favor. Só há a parte de que eles se aceitam como legítimos, na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, com fé na felicidade, com respeito e sinceridade, com o compromisso primordial de dividirem os dias pelo bem comum. Só pelo bem.
Catarina, Lucas,
Que possamos sempre ser testemunhas do amor de vocês. Que vejamos a quiança se transformar num ser humano também admirável. Que tenhamos muitos motivos para comemorar esta união. Muitos bons dias estão neste caminho, com certeza. Vamos estar juntos nisso.
Amo vocês três.
5 de dezembro de 2011
7 de novembro de 2011
Mais do que prezo
Eu era uma meninota quando vi, num daqueles programas populares e cotidianos que Regina Casé apresentava, uma entrevista que ela fez com um rapaz dentro do carro dele: um automóvel todo enfeitado, cheio de penduricalhos e mostras de sua personalidade exorbitante.
Em certo momento, em meio à conversa descontraída, Regina disse ao moço:
– Eu queria ter nascido homem.
Ele emendou na lata:
– Eu também.
Regina gargalhou. Eu ri junto com ela. E achei fofo. Criei carinho instantâneo. Contei esta história mil vezes na época e ao longo da vida. Nunca esqueci esta cena. Empatia de quem entende de desajustes, talvez.
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Eu tenho mania de querer ser amiga de gente que não conheço. E que muito provavelmente não conhecerei. Gente cujos olhos e atitudes me fazem acreditar que seríamos bons companheiros. Eu queria ser amiga do moço que queria ter nascido homem. E de Lula, Marieta Severo, Sean Penn e, recentemente, de Janelle Monáe.
Quem sabe eu confie demais nas impressões imediatas que tenho das pessoas. Quem sabe estes preconceitos – que não escapadamente são do que isto se trata – acabem me afastando de bons sujeitos, ou me aproximando de bons atores. Mas não consigo fazer diferente. Nem me esforço para tanto. Acredito na boa percepção que tenho das coisas da vida, sou doentemente observadora e minhas leituras, no fim das contas, costumam me poupar desgastes. Não gosto de perder tempo. Gosto de ter clareza do que me atrai e do que me repele. Conheço essa lista. Acredito no que sinto.
----------------------
Silvana gosta de ler os nomes das pessoas grafados por aí. O nome da amiga Cláudia estampado na capa da revista batizada da mesma forma a atrai. Por isso, ela me deu de presente uma garrafa de Doña Paula e, tempos depois, uma bonequinha jogadora de tênis que também é minha xará – ainda encaixotada, ela enfeita a estante de minha sala como um sinal do carinho que Silvana me ensina existir livre e solto pelo mundo.
É que de fato não é difícil reconhecer, mesmo de longe, quem tem peças que encaixam nas nossas. Quando olho para minha boneca Paula, lembro que não é preciso fazer esforços hercúleos para sermos queridos. Que relações não precisam derivar de batalhas. Que conquistas não devem ser alívio de labutas. Que débitos, desequilíbrios e desgastes não são saudáveis. Arturo me disse esses dias: “Eu já entendi que quando parece que você precisa lutar, na verdade, é pra desistir”.
Silvana e eu nos conhecemos há já alguns bons anos. Não posso dizer que somos exatamente amigas, mas a gente se curte, se paquera e se cuida de um jeito nosso. Eu e ela também dialogamos muito através de nossos textos (e, nossa, quantas e quantas vezes me vejo em suas palavras!). Acho bonito como Silvana mergulha em si mesma, os questionamentos que ela se faz, a forma como se desafia. De certa maneira, parece, sabemos que podemos confiar e contar uma com a outra. É simples, é sem cobrança e pronto: de repente, um mimo, uma escrita, uma conversa, uma mensagem no celular, um encontro agradável. E assim, com seus sinais de delicadeza, Silvana me faz atentar para o prazer de poder ser afetuoso, de fazer surpresas, de nutrir sorrisos.
----------------------
Não. Eu não sou fofa. Dou, aliás, cada vez mais valor à inestimável importância da intolerância. Mas sou honesta. Cada afago que ofereço é reflexo de minha busca por contribuir para a felicidade daqueles que estimo. E gosto de ser profunda.
Não há nada de superficial no meu convívio com Silvana, por exemplo. Nem com outras pessoas que escolho participarem dos meus dias sem, necessariamente, termos intimidade, confidências trocadas, telefonemas frequentes, visitas agendadas. Tem gente que eu gosto, e muito, que eu admiro, e muito, sem compromisso algum. Mas com comprometimento, cuidado e respeito. Aposento-me de quem não se preocupar igualmente com o meu bem-estar.
Em certo momento, em meio à conversa descontraída, Regina disse ao moço:
– Eu queria ter nascido homem.
Ele emendou na lata:
– Eu também.
Regina gargalhou. Eu ri junto com ela. E achei fofo. Criei carinho instantâneo. Contei esta história mil vezes na época e ao longo da vida. Nunca esqueci esta cena. Empatia de quem entende de desajustes, talvez.
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Eu tenho mania de querer ser amiga de gente que não conheço. E que muito provavelmente não conhecerei. Gente cujos olhos e atitudes me fazem acreditar que seríamos bons companheiros. Eu queria ser amiga do moço que queria ter nascido homem. E de Lula, Marieta Severo, Sean Penn e, recentemente, de Janelle Monáe.
Quem sabe eu confie demais nas impressões imediatas que tenho das pessoas. Quem sabe estes preconceitos – que não escapadamente são do que isto se trata – acabem me afastando de bons sujeitos, ou me aproximando de bons atores. Mas não consigo fazer diferente. Nem me esforço para tanto. Acredito na boa percepção que tenho das coisas da vida, sou doentemente observadora e minhas leituras, no fim das contas, costumam me poupar desgastes. Não gosto de perder tempo. Gosto de ter clareza do que me atrai e do que me repele. Conheço essa lista. Acredito no que sinto.
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Silvana gosta de ler os nomes das pessoas grafados por aí. O nome da amiga Cláudia estampado na capa da revista batizada da mesma forma a atrai. Por isso, ela me deu de presente uma garrafa de Doña Paula e, tempos depois, uma bonequinha jogadora de tênis que também é minha xará – ainda encaixotada, ela enfeita a estante de minha sala como um sinal do carinho que Silvana me ensina existir livre e solto pelo mundo.
É que de fato não é difícil reconhecer, mesmo de longe, quem tem peças que encaixam nas nossas. Quando olho para minha boneca Paula, lembro que não é preciso fazer esforços hercúleos para sermos queridos. Que relações não precisam derivar de batalhas. Que conquistas não devem ser alívio de labutas. Que débitos, desequilíbrios e desgastes não são saudáveis. Arturo me disse esses dias: “Eu já entendi que quando parece que você precisa lutar, na verdade, é pra desistir”.
Silvana e eu nos conhecemos há já alguns bons anos. Não posso dizer que somos exatamente amigas, mas a gente se curte, se paquera e se cuida de um jeito nosso. Eu e ela também dialogamos muito através de nossos textos (e, nossa, quantas e quantas vezes me vejo em suas palavras!). Acho bonito como Silvana mergulha em si mesma, os questionamentos que ela se faz, a forma como se desafia. De certa maneira, parece, sabemos que podemos confiar e contar uma com a outra. É simples, é sem cobrança e pronto: de repente, um mimo, uma escrita, uma conversa, uma mensagem no celular, um encontro agradável. E assim, com seus sinais de delicadeza, Silvana me faz atentar para o prazer de poder ser afetuoso, de fazer surpresas, de nutrir sorrisos.
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Não. Eu não sou fofa. Dou, aliás, cada vez mais valor à inestimável importância da intolerância. Mas sou honesta. Cada afago que ofereço é reflexo de minha busca por contribuir para a felicidade daqueles que estimo. E gosto de ser profunda.
Não há nada de superficial no meu convívio com Silvana, por exemplo. Nem com outras pessoas que escolho participarem dos meus dias sem, necessariamente, termos intimidade, confidências trocadas, telefonemas frequentes, visitas agendadas. Tem gente que eu gosto, e muito, que eu admiro, e muito, sem compromisso algum. Mas com comprometimento, cuidado e respeito. Aposento-me de quem não se preocupar igualmente com o meu bem-estar.
26 de julho de 2011
Minha criança
Há um tempo, já alguns meses, meu amigo João Carlos Sampaio postou em seu perfil no Facebook uma foto dele criança, num jardim caseiro, em que, ao fundo, vê-se uma senhora catando flores.
Na legenda, o seguinte texto:
“Sempre que olho essa foto (minha amada vó ao fundo) fico pensando se eu consegui ser justo com este menino, o que fiz dele... o que faço dele todos os dias... esse garoto, com um olhar tão intenso, me cobra muito... não sei se o decepcionei, se o decepciono... é tão difícil!”
Olhar minha vida sob esta perspectiva passou a ser um impulso frequente: será, Paula Berbert, que você está honrando o sorriso puro e cheio de esperança da criança que você foi? Será este o futuro que aquela menina merece?
Quando vejo minhas fotos de infância, sorrio para meus próprios olhos tão brilhantes e puros, reflexo de uma felicidade ingênua que existia apenas ali, em cada instante registrado de um tempo em que a vida se justifica em cada lúdico segundo de liberdade plena. Então eu penso: todas as crianças deveriam mesmo poder ser livres. E me entristeço por aquelas que não são.
A criança que eu fui não foi personagem dos melhores contos de fada. De forma alguma. E falar disso me faz lembrar de quando minha então recém-nascida irmã foi fazer o teste do pezinho e abriu um berreiro apavorado, soluçado. No mesmo instante, uma neném ao lado, ao ter o calcanhar furado, permaneceu imóvel e calada. A mãe justificou: ela nasceu pré-matura, acabara de sair de longo período no hospital, passou todos os dias desde o nascimento tomando injeções. Devia estar achando que viver era sinônimo de levar agulhadas. As crianças se adaptam com a facilidade de quem ainda não foi enrijecido pela dor. E me entristeço por aquelas que têm de conviver cotidianamente com o sofrimento.
Felizmente, as lágrimas de minha infância não foram ignoradas e meu pai, na infinita sabedoria de seus 20 e poucos anos, não me deixou acostumar com as severidades das circunstâncias. Com carinho e paciência, ele me ensinou que a verdade dissolve qualquer medo. E que minha felicidade é digna de muito respeito.
Hoje, dia em que tive a melhor sessão de terapia de todos os tempos, fui mais uma vez remetida à criança que eu fui. Porque eu faço muita questão de manter as coisas dela em mim. Porque eu sou essencialmente leve e desengessada, apesar de qualquer coisa. E é assim que preciso viver: com o coração tranquilo e com a vontade ingênua de encontrar alegria em tudo, até mesmo nas reconstrutoras tristezas. Foi deste modo que me tornei gente. É esta mulher que minha criança aplaude contente em meus sonhos.
Na legenda, o seguinte texto:
“Sempre que olho essa foto (minha amada vó ao fundo) fico pensando se eu consegui ser justo com este menino, o que fiz dele... o que faço dele todos os dias... esse garoto, com um olhar tão intenso, me cobra muito... não sei se o decepcionei, se o decepciono... é tão difícil!”
Olhar minha vida sob esta perspectiva passou a ser um impulso frequente: será, Paula Berbert, que você está honrando o sorriso puro e cheio de esperança da criança que você foi? Será este o futuro que aquela menina merece?
Quando vejo minhas fotos de infância, sorrio para meus próprios olhos tão brilhantes e puros, reflexo de uma felicidade ingênua que existia apenas ali, em cada instante registrado de um tempo em que a vida se justifica em cada lúdico segundo de liberdade plena. Então eu penso: todas as crianças deveriam mesmo poder ser livres. E me entristeço por aquelas que não são.
A criança que eu fui não foi personagem dos melhores contos de fada. De forma alguma. E falar disso me faz lembrar de quando minha então recém-nascida irmã foi fazer o teste do pezinho e abriu um berreiro apavorado, soluçado. No mesmo instante, uma neném ao lado, ao ter o calcanhar furado, permaneceu imóvel e calada. A mãe justificou: ela nasceu pré-matura, acabara de sair de longo período no hospital, passou todos os dias desde o nascimento tomando injeções. Devia estar achando que viver era sinônimo de levar agulhadas. As crianças se adaptam com a facilidade de quem ainda não foi enrijecido pela dor. E me entristeço por aquelas que têm de conviver cotidianamente com o sofrimento.
Felizmente, as lágrimas de minha infância não foram ignoradas e meu pai, na infinita sabedoria de seus 20 e poucos anos, não me deixou acostumar com as severidades das circunstâncias. Com carinho e paciência, ele me ensinou que a verdade dissolve qualquer medo. E que minha felicidade é digna de muito respeito.
Hoje, dia em que tive a melhor sessão de terapia de todos os tempos, fui mais uma vez remetida à criança que eu fui. Porque eu faço muita questão de manter as coisas dela em mim. Porque eu sou essencialmente leve e desengessada, apesar de qualquer coisa. E é assim que preciso viver: com o coração tranquilo e com a vontade ingênua de encontrar alegria em tudo, até mesmo nas reconstrutoras tristezas. Foi deste modo que me tornei gente. É esta mulher que minha criança aplaude contente em meus sonhos.
18 de julho de 2011
Complementando
Luciano Matos escreveu um texto supimpa sobre "A quantas anda a música baiana". Informações para deixar a gente feliz e orgulhoso e que, sem pretensão de me colocar à frente de Luciano, peloamor, me parecem um ótimo complemento ao meu texto mais recente, "Discursos do rock and roll".
Leiam, leiam!
Leiam, leiam!
11 de julho de 2011
Discursos do rock and roll
O Dia Mundial do Rock está chegando.
As entrevistas e perguntas de como é fazer rock em Salvador também.
Esta é minha homenagem ao momento em que a mídia baiana nos dá mais esmola.
Breve introdução:
Não me integro a patrulhas. Não sou afeita a polêmicas. Eu nem sequer me meto em discussões. Raramente me motivo a defender minhas opiniões. Não me interessa intervir nas opiniões alheias. Sou conversadora e debatedora de esquina, com quem eu possa me articular e rir. Não levo as coisas a sério. Não quero mudar o mundo.
Este texto nasceu porque o assunto tem me rondado de diversas maneiras e tem sido uma pauta frequente em ocasiões variadas. Não há nada formal aqui além do que penso. É uma reflexão minha, apenas. Se puder ser também uma reflexão sua, ótimo.
Acredito na importância de se ter cuidado com discursos. Este texto fala sobre discursos. E do que considero ser fundamental: ter clareza sobre aquilo que vociferamos. Uma coisa que acho bonita e respeitável é perceber que uma certa conduta é resultado de uma ponderação crítica. Na mesma lógica, uma coisa que me causa calafrio e preguiça é ver gente reproduzir “verdades” sem reconhecer o que elas significam, sem ter parado para questionar o que elas são.
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Depois da cerimônia de entrega de troféus da 2ª edição do Prêmio Bahia de Todos os Rocks, em novembro passado, cujo palco reproduzia algo similar a um ambiente de furna, Ronei Jorge, entre os diversos e merecidos elogios feitos ao evento, comentou algo assim: “Eu mexeria no cenário. Precisamos sair da caverna”.
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Recentemente, uma aluna do curso de jornalismo da Universidade Federal da Bahia solicitou uma entrevista com o Cascadura – no caso, Fábio Cascadura e eu – para integrar a grande reportagem que iria fazer como Trabalho de Conclusão de Curso. O tema: a relação das bandas underground de rock de Salvador com redes e mídias sociais, comparando as estratégias de divulgação na década de 1990 com as de hoje, com o uso da internet.
O pedido, por e-mail, era evidentemente lúcido, respaldado, bem escrito, seguro. Inclusive, ela indicou uma lista de outras pessoas a quem também entrevistaria – lista que demonstrava que ela estava sabendo muito bem quem podia dar depoimentos importantes sobre a pauta. Messias Bandeira e Ednilson Sacramento, por exemplo. Uma proposta bacana, de onde deve sair (ou já ter saído) boa coisa.
Eu e Fábio nos disponibilizamos prontamente – mas, em minha resposta afirmativa, eu me intrometi e falei de um ponto primário do trabalho dela: que a definição "bandas underground" tem em si uma carga preconceituosa delicada. Disse que achava que partir do princípio de que estaria falando de "undergrounds" já tendenciaria o desenvolvimento da pesquisa para uma avaliação "menor". Esta não deveria ser uma definição a priori, creio eu. Pedi que ela reavaliasse o rótulo, especialmente por se tratar de um projeto de comunicação – e, ainda que haja uma definição formal e acadêmica para "underground" que não tenha este caráter, fato é que a representação social desta expressão é negativa. Não se pode escapar do senso comum quando a pauta está na comunicação. Não se pode descuidar do discurso num caso assim. Eu justamente questionaria o termo referido pelas fontes. Por que underground? Precisamos deixar de ser subterrâneos.
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Fico feliz de ver a música independente ser pautada na Academia. Tem sido frequente. Vira e mexe, me aparece um trabalho centrado em temas relacionados a isso. Sempre na área de comunicação. Me parece ótimo que estejam discutindo. Que proponham entender como funciona esta engrenagem, que problematizem. Tenho impressão de que se forem formados comunicólogos com visão menos folclorizada do que é “fazer rock na Bahia” poderemos esperar uma atuação mais competente dos profissionais em relação à diversidade das mais diversas linguagens artísticas.
Também recentemente, alunos de jornalismo da Faculdade Social me enviaram umas questões para uma matéria. As perguntas todas giravam em torno das mazelas. Por exemplo, algo assim: “Quais as maiores dificuldades das bandas do cenário alternativo? Como assessora de imprensa destas bandas, quais as suas principais dificuldades?”.
E eu respondi que a produção artística é uma atividade que, como todas as outras, tem suas dificuldades. E as dificuldades são diversas, não localizadas em um ponto específico. E isto não tem a ver só com as bandas independentes, mas com um contexto social como um todo. Assim como é difícil abrir uma empresa e fazê-la tomar seu espaço no mercado, é também difícil engatar uma carreira na música. E no teatro. E na dança. E no circo. E nas artes visuais. E no cinema. Enfim. Não é privilégio nosso. Acho que insistir no discurso de “como é difícil!” é complicado. Não são só os roqueiros baianos que têm desafios na vida. Precisamos abandonar nosso complexo de vira-lata.
Também disse que, aliás, estas próprias questões poderiam ser por mim apresentadas como uma das principais dificuldades que encontro como assessora de imprensa de bandas independentes: este tratamento de que se trata de um trabalho exótico, heróico, inusitado. A grande mídia não consegue fazer uma entrevista com uma banda de rock aqui sem perguntar “como é fazer rock na Bahia?”, como se isto fosse impressionante, uma escolha desconexa, rebelde, improvisada, desajustada. Não é: é um trabalho sério, executado por pessoas competentes, respeitado pela crítica nacional e por um público crescente. Espero que um dia a grande mídia deixe de reforçar certos estereótipos e ignorar determinadas produções. Espero um dia ver um personagem de novela que goste de rock não estar sempre usando roupa preta e sendo a figura esquisita do folhetim. Espero não ver mais o Fantástico fazer uma matéria de roqueiros (devidamente excêntricos) versus pagodeiros (devidamente felizes) – e chamando Nando Reis, uma das fontes entrevistadas, de ex-roqueiro (ele não é mais mau, não canta mais Bichos Escrotos, é ex-roqueiro, óbvio). Este estranhamento sem reflexão devida é um desserviço.
É claro que sei que a Bahia tem suas limitações para todas as expressões de arte e para todos os estilos de música. E que é também um estado que por muitos anos investiu na consagração de uma monocultura musical, relacionada ao sistema do Axé, e que isto se reflete na dimensão do espaço midiático e na possibilidade de atingir públicos mais diversos. Mas também acho que tudo isto, no entanto, tem, a olhos vistos, sido paulatinamente superado por ações de fomento à diversidade cultural e, especialmente, pelo trabalho incessante de artistas comprometidos com a arte que produzem.
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Mês passado, participei de uma banca avaliadora de um Trabalho de Conclusão de Curso que se propunha a realizar uma grande reportagem sobre a música independente da cidade: um trabalho de pesquisa visivelmente exaustiva, que, com certeza, arrancou muito suor de suas autoras. Teria sido excelente se não fosse um detalhe: a delimitação do tema. “Música independente de Salvador”, na prática, virou “rock consumido pela classe média jovem frequentadora do Rio Vermelho”. Sim: elas indicaram que iriam falar da música independente da cidade e ignoraram as periferias, os outros universos soteropolitanos, o arrocha, o samba, o rap, o heavy metal... Música independente é um conceito grande demais. Salvador é um espaço enorme (e até o Rio Vermelho também: todo mundo já viu os sambões que acontecem em Dinha? O chorinho do São Jorge? Os shows de MPB e bossa nova que rolam no Sesi? E o que está dentro do Twist, da Padaria, do Salvador Dali?). A ambição de abarcar toda a realidade deste tema só poderia ter sido frustrada.
É óbvio que demarcar um estilo musical, um espaço geográfico e um público seria não apenas mais eficiente, como também recomendável – claro, pesquisas precisam de focos bem definidos. Não haveria mal nenhum em adentrar só neste cenário se esta tivesse sido uma escolha consciente, ponderada, descrita, justificada. O problema era achar que retratar a história de 20 e poucas bandas do rock riovermelhense era dar conta da proposta.
Também é comum rotularem este pedaço da cidade e da produção musical soteropolitana como a representação do “cenário alternativo”. Alternativo a quê? Para quem? No meu entendimento, há duas variáveis bastante relevantes no uso desta expressão. Vejamos:
1) Dizer-se “alternativo” é se colocar num lugar menor. Há uma via principal e há a alternativa? Não corroboraria isso. Até porque, considerando que assim seja, não haveria uma alternativa, e sim várias. O rock, sozinho, não é cena alternativa de um lugar.
2) Dizer-se “alternativo” é se colocar num lugar maior. É dar-se um título de poder indevido, pretensioso, que conota uma ideia de caminho da salvação. “Somos a alternativa” soa como “somos diferenciados”: vocês, do mainstream – pobres mortais alienados –, lá; nós, alternativos – espertos conhecedores do mundo –, cá.
À pergunta final de um dos trabalhos acadêmicos citados, “Como você define o público axé e o público rock?”, eu respondi: “Nego-me aos estereótipos. Há gente de todo tipo nestes dois públicos, e há muita gente que faz parte de ambos. Não reforçamos as secções”. É caduca esta conduta. Caduca e pedante. Não há público melhor ou pior; não há mérito ou alienação intrínseca a público algum. Precisamos parar de nos sentir diferentes – no bom ou no mau sentido – e querer dar prateleiras pra todas as coisas da vida.
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Estou ficando velha e chata, não tenho mais a mesma paciência de estar em ambientes com pessoas de quem eu quase poderia ser mãe, serelepes na descoberta do mundo e das noitadas roqueiras de classe média. Talvez por isso mesmo – por estar velha e chata –, não tenho gosto pela maioria dos trabalhos da chamada “nova geração” do rock de Salvador. (Lembremos que a música independente e até mesmo o rock da capital baiana estão bem além dos shows do Rio Vermelho e da Barra. A nova cena destes bairros não é uma nova cena da cidade.) Não que sejam ruins. Não tenho nenhum superpoder atômico que me dê o direito de dizer o que é bom, o que não é. Mas eles não “falam” comigo. É, de fato, um processo protagonizado e consumido por gente mais jovem, que está chegando nos palcos e nas plateias para ocupar seus merecidos espaços. A fila anda.
Me vale dizer, porém, que respeito o que esta galera anda fazendo: o mérito da união de forças, da programação superativa, dos eventos promovidos, do público por eles conquistado, do profissionalismo. Estão fazendo barulho, chamando atenção, aparecendo na mídia, formando novos técnicos (as bandas estão criando equipes de trabalho de verdade), produzindo o tempo todo. E tudo isto, até onde sei, é novidade: sair do limbo da reclamação, de que na Bahia não tem isso e aquilo, para a ação; interromper o discurso de que, no dito limitado espaço existente, é impossível concorrer com “os grandes”; ignorar as perseguições e encarar com dignidade as patrulhas. Sem medo de errar, de amadurecer, de construir uma história. Fazendo mais que falando. Precisamos aplaudir o que é de merecimento, reconhecer o novo e ver isso se refletir nos discursos sociais e midiáticos.
Bora nessa.
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Adendos:
- O último parágrafo foi praticamente um copiar-colar de um comentário que fiz neste texto de Lucas Jerzy Portela.
- Um viva bem grande à seção cultural do novo iBahia. Isto sim é um espaço democrático e respeitoso diante do que se produz na música local. (Parabéns a Lívia Rangel e Luciano Matos!)
- Um viva maior ainda aos nossos artistas independentes que estão fazendo da agenda de música de Salvador um sem fim de eventos de sucesso. Tá difícil acompanhar tanta coisa! Abra o jornal: nós somos maioria! =)
- Este é meu post número 100!
As entrevistas e perguntas de como é fazer rock em Salvador também.
Esta é minha homenagem ao momento em que a mídia baiana nos dá mais esmola.
Breve introdução:
Não me integro a patrulhas. Não sou afeita a polêmicas. Eu nem sequer me meto em discussões. Raramente me motivo a defender minhas opiniões. Não me interessa intervir nas opiniões alheias. Sou conversadora e debatedora de esquina, com quem eu possa me articular e rir. Não levo as coisas a sério. Não quero mudar o mundo.
Este texto nasceu porque o assunto tem me rondado de diversas maneiras e tem sido uma pauta frequente em ocasiões variadas. Não há nada formal aqui além do que penso. É uma reflexão minha, apenas. Se puder ser também uma reflexão sua, ótimo.
Acredito na importância de se ter cuidado com discursos. Este texto fala sobre discursos. E do que considero ser fundamental: ter clareza sobre aquilo que vociferamos. Uma coisa que acho bonita e respeitável é perceber que uma certa conduta é resultado de uma ponderação crítica. Na mesma lógica, uma coisa que me causa calafrio e preguiça é ver gente reproduzir “verdades” sem reconhecer o que elas significam, sem ter parado para questionar o que elas são.
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Depois da cerimônia de entrega de troféus da 2ª edição do Prêmio Bahia de Todos os Rocks, em novembro passado, cujo palco reproduzia algo similar a um ambiente de furna, Ronei Jorge, entre os diversos e merecidos elogios feitos ao evento, comentou algo assim: “Eu mexeria no cenário. Precisamos sair da caverna”.
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Recentemente, uma aluna do curso de jornalismo da Universidade Federal da Bahia solicitou uma entrevista com o Cascadura – no caso, Fábio Cascadura e eu – para integrar a grande reportagem que iria fazer como Trabalho de Conclusão de Curso. O tema: a relação das bandas underground de rock de Salvador com redes e mídias sociais, comparando as estratégias de divulgação na década de 1990 com as de hoje, com o uso da internet.
O pedido, por e-mail, era evidentemente lúcido, respaldado, bem escrito, seguro. Inclusive, ela indicou uma lista de outras pessoas a quem também entrevistaria – lista que demonstrava que ela estava sabendo muito bem quem podia dar depoimentos importantes sobre a pauta. Messias Bandeira e Ednilson Sacramento, por exemplo. Uma proposta bacana, de onde deve sair (ou já ter saído) boa coisa.
Eu e Fábio nos disponibilizamos prontamente – mas, em minha resposta afirmativa, eu me intrometi e falei de um ponto primário do trabalho dela: que a definição "bandas underground" tem em si uma carga preconceituosa delicada. Disse que achava que partir do princípio de que estaria falando de "undergrounds" já tendenciaria o desenvolvimento da pesquisa para uma avaliação "menor". Esta não deveria ser uma definição a priori, creio eu. Pedi que ela reavaliasse o rótulo, especialmente por se tratar de um projeto de comunicação – e, ainda que haja uma definição formal e acadêmica para "underground" que não tenha este caráter, fato é que a representação social desta expressão é negativa. Não se pode escapar do senso comum quando a pauta está na comunicação. Não se pode descuidar do discurso num caso assim. Eu justamente questionaria o termo referido pelas fontes. Por que underground? Precisamos deixar de ser subterrâneos.
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Fico feliz de ver a música independente ser pautada na Academia. Tem sido frequente. Vira e mexe, me aparece um trabalho centrado em temas relacionados a isso. Sempre na área de comunicação. Me parece ótimo que estejam discutindo. Que proponham entender como funciona esta engrenagem, que problematizem. Tenho impressão de que se forem formados comunicólogos com visão menos folclorizada do que é “fazer rock na Bahia” poderemos esperar uma atuação mais competente dos profissionais em relação à diversidade das mais diversas linguagens artísticas.
Também recentemente, alunos de jornalismo da Faculdade Social me enviaram umas questões para uma matéria. As perguntas todas giravam em torno das mazelas. Por exemplo, algo assim: “Quais as maiores dificuldades das bandas do cenário alternativo? Como assessora de imprensa destas bandas, quais as suas principais dificuldades?”.
E eu respondi que a produção artística é uma atividade que, como todas as outras, tem suas dificuldades. E as dificuldades são diversas, não localizadas em um ponto específico. E isto não tem a ver só com as bandas independentes, mas com um contexto social como um todo. Assim como é difícil abrir uma empresa e fazê-la tomar seu espaço no mercado, é também difícil engatar uma carreira na música. E no teatro. E na dança. E no circo. E nas artes visuais. E no cinema. Enfim. Não é privilégio nosso. Acho que insistir no discurso de “como é difícil!” é complicado. Não são só os roqueiros baianos que têm desafios na vida. Precisamos abandonar nosso complexo de vira-lata.
Também disse que, aliás, estas próprias questões poderiam ser por mim apresentadas como uma das principais dificuldades que encontro como assessora de imprensa de bandas independentes: este tratamento de que se trata de um trabalho exótico, heróico, inusitado. A grande mídia não consegue fazer uma entrevista com uma banda de rock aqui sem perguntar “como é fazer rock na Bahia?”, como se isto fosse impressionante, uma escolha desconexa, rebelde, improvisada, desajustada. Não é: é um trabalho sério, executado por pessoas competentes, respeitado pela crítica nacional e por um público crescente. Espero que um dia a grande mídia deixe de reforçar certos estereótipos e ignorar determinadas produções. Espero um dia ver um personagem de novela que goste de rock não estar sempre usando roupa preta e sendo a figura esquisita do folhetim. Espero não ver mais o Fantástico fazer uma matéria de roqueiros (devidamente excêntricos) versus pagodeiros (devidamente felizes) – e chamando Nando Reis, uma das fontes entrevistadas, de ex-roqueiro (ele não é mais mau, não canta mais Bichos Escrotos, é ex-roqueiro, óbvio). Este estranhamento sem reflexão devida é um desserviço.
É claro que sei que a Bahia tem suas limitações para todas as expressões de arte e para todos os estilos de música. E que é também um estado que por muitos anos investiu na consagração de uma monocultura musical, relacionada ao sistema do Axé, e que isto se reflete na dimensão do espaço midiático e na possibilidade de atingir públicos mais diversos. Mas também acho que tudo isto, no entanto, tem, a olhos vistos, sido paulatinamente superado por ações de fomento à diversidade cultural e, especialmente, pelo trabalho incessante de artistas comprometidos com a arte que produzem.
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Mês passado, participei de uma banca avaliadora de um Trabalho de Conclusão de Curso que se propunha a realizar uma grande reportagem sobre a música independente da cidade: um trabalho de pesquisa visivelmente exaustiva, que, com certeza, arrancou muito suor de suas autoras. Teria sido excelente se não fosse um detalhe: a delimitação do tema. “Música independente de Salvador”, na prática, virou “rock consumido pela classe média jovem frequentadora do Rio Vermelho”. Sim: elas indicaram que iriam falar da música independente da cidade e ignoraram as periferias, os outros universos soteropolitanos, o arrocha, o samba, o rap, o heavy metal... Música independente é um conceito grande demais. Salvador é um espaço enorme (e até o Rio Vermelho também: todo mundo já viu os sambões que acontecem em Dinha? O chorinho do São Jorge? Os shows de MPB e bossa nova que rolam no Sesi? E o que está dentro do Twist, da Padaria, do Salvador Dali?). A ambição de abarcar toda a realidade deste tema só poderia ter sido frustrada.
É óbvio que demarcar um estilo musical, um espaço geográfico e um público seria não apenas mais eficiente, como também recomendável – claro, pesquisas precisam de focos bem definidos. Não haveria mal nenhum em adentrar só neste cenário se esta tivesse sido uma escolha consciente, ponderada, descrita, justificada. O problema era achar que retratar a história de 20 e poucas bandas do rock riovermelhense era dar conta da proposta.
Também é comum rotularem este pedaço da cidade e da produção musical soteropolitana como a representação do “cenário alternativo”. Alternativo a quê? Para quem? No meu entendimento, há duas variáveis bastante relevantes no uso desta expressão. Vejamos:
1) Dizer-se “alternativo” é se colocar num lugar menor. Há uma via principal e há a alternativa? Não corroboraria isso. Até porque, considerando que assim seja, não haveria uma alternativa, e sim várias. O rock, sozinho, não é cena alternativa de um lugar.
2) Dizer-se “alternativo” é se colocar num lugar maior. É dar-se um título de poder indevido, pretensioso, que conota uma ideia de caminho da salvação. “Somos a alternativa” soa como “somos diferenciados”: vocês, do mainstream – pobres mortais alienados –, lá; nós, alternativos – espertos conhecedores do mundo –, cá.
À pergunta final de um dos trabalhos acadêmicos citados, “Como você define o público axé e o público rock?”, eu respondi: “Nego-me aos estereótipos. Há gente de todo tipo nestes dois públicos, e há muita gente que faz parte de ambos. Não reforçamos as secções”. É caduca esta conduta. Caduca e pedante. Não há público melhor ou pior; não há mérito ou alienação intrínseca a público algum. Precisamos parar de nos sentir diferentes – no bom ou no mau sentido – e querer dar prateleiras pra todas as coisas da vida.
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Estou ficando velha e chata, não tenho mais a mesma paciência de estar em ambientes com pessoas de quem eu quase poderia ser mãe, serelepes na descoberta do mundo e das noitadas roqueiras de classe média. Talvez por isso mesmo – por estar velha e chata –, não tenho gosto pela maioria dos trabalhos da chamada “nova geração” do rock de Salvador. (Lembremos que a música independente e até mesmo o rock da capital baiana estão bem além dos shows do Rio Vermelho e da Barra. A nova cena destes bairros não é uma nova cena da cidade.) Não que sejam ruins. Não tenho nenhum superpoder atômico que me dê o direito de dizer o que é bom, o que não é. Mas eles não “falam” comigo. É, de fato, um processo protagonizado e consumido por gente mais jovem, que está chegando nos palcos e nas plateias para ocupar seus merecidos espaços. A fila anda.
Me vale dizer, porém, que respeito o que esta galera anda fazendo: o mérito da união de forças, da programação superativa, dos eventos promovidos, do público por eles conquistado, do profissionalismo. Estão fazendo barulho, chamando atenção, aparecendo na mídia, formando novos técnicos (as bandas estão criando equipes de trabalho de verdade), produzindo o tempo todo. E tudo isto, até onde sei, é novidade: sair do limbo da reclamação, de que na Bahia não tem isso e aquilo, para a ação; interromper o discurso de que, no dito limitado espaço existente, é impossível concorrer com “os grandes”; ignorar as perseguições e encarar com dignidade as patrulhas. Sem medo de errar, de amadurecer, de construir uma história. Fazendo mais que falando. Precisamos aplaudir o que é de merecimento, reconhecer o novo e ver isso se refletir nos discursos sociais e midiáticos.
Bora nessa.
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Adendos:
- O último parágrafo foi praticamente um copiar-colar de um comentário que fiz neste texto de Lucas Jerzy Portela.
- Um viva bem grande à seção cultural do novo iBahia. Isto sim é um espaço democrático e respeitoso diante do que se produz na música local. (Parabéns a Lívia Rangel e Luciano Matos!)
- Um viva maior ainda aos nossos artistas independentes que estão fazendo da agenda de música de Salvador um sem fim de eventos de sucesso. Tá difícil acompanhar tanta coisa! Abra o jornal: nós somos maioria! =)
- Este é meu post número 100!
5 de julho de 2011
Divos
E se esse blog é meu, eu posso falar das minhas olhadelas por cima do muro sem censura, né? Nhá, mas não quero explicar não. A questão que interessa é minha pergunta serial: por que, Deus, existe pretensão se música pode ser assim simples e linda e tocante e viva?
O caso agora é só o desejo de compartilhar aqui que estes dois divos cantam pra mim quase todo dia.
O caso agora é só o desejo de compartilhar aqui que estes dois divos cantam pra mim quase todo dia.
31 de maio de 2011
Notícias do novo lar
Tirando a pia da cozinha que está, neste exato momento, vazando aqui perto ao lado, acabo de acabar de arrumar a minha casa. Agora, sim, minha casa. Casa nova, apesar de ser um apartamento velho. Antigo, melhor dizendo. Não vou mais chamar minha casa de velha. Ela é apenas antiga. E charmosa. Tem uma parede de tijolinhos que eu adoro. Tem também uma parede manchada de infiltração, que eu detesto. Pintarei assim que possível.
Por enquanto, estou vivendo a falência desta mudança repentina, que me custou mais do que eu podia e que me faz, agora, ficar listando as coisinhas que preciso com urgência, mas que não poderei dar conta de providenciar de imediato. No topo dos desejos, estão uma luminária para as leituras noturnas, um criado-mudo para o que deve estar à mão e um porta-talheres para que eles não fiquem jogados na gaveta. Também tenho de prender o espelho na parede. Depois, vêm uma estante (a mais) pra sala, quadros e mais quadros (há ótimos espaços para eles), cabideiro de chão, uma plantinha pra varanda e, adiante, um sofá. Super vivo sem sofá, mas, vá lá, sofá na sala é uma necessidade de composição; parece que a sala é oca sem sofá. Fica um vaziozão.
Também herdei uns móveis usados que nem de longe teriam sido por mim escolhidos, mas vou brincar de recriá-los, enquanto não for possível substituí-los. O mesmo vale para o banheiro, que terá seus azulejos transformados em arte (um viva a Thalita Carvalho, cujo blog eu tenho revirado com água na boca).
Enfim: o que importa nesta hora é que tudo que eu trouxe comigo já está em seu canto devido, milimétrica e metodicamente organizado, como eu gosto. Nenhuma vez em minha vida eu precisei achar algo e não encontrei. Tudo tem lugar exato, sem desvio. E, nesta ocasião de rearrumar os meus pertences, eu fico aplaudindo a mim mesma ao definir em que pedaço do meu mundo eles vão passar a residir.
Melhor ainda é incorporar a alma faxineira sem ver rolar nenhuma gota de suor. Não sei se faz parte da coincidência de ter me mudado na virada de estação, mas minha sensação é de que moro no lugar mais ventilado da história. Não há trégua nos rodopios de vento por aqui. Eles vêm e vão por todos os lados, fazem corrente e assoviam sem parar. Estou já me acostumando com o soar incessante (uuuuuuu!), só preciso identificar onde eles batem com força de derrubar objetos. Ao menos um deles cai a cada dia (hoje eu levei uma porta-retratada na testa) – e lá vou eu catar um repouso mais seguro para os despencados. O troca-troca ainda não acabou. Caso é que estou mesmo curiosa para ver como é o verão daqui de dentro. Espero que estar ao décimo andar de um prédio que me privilegia com uma estonteante vista para o mar seja garantia de arejo eterno.
Pois então é tempo de convocar as visitas, de encher esta casa de vida e de ver ser escrita a história desta etapa nova, e já tão feliz.
Update: torneira da cozinha trocada. Acabou-se aguaceiro.
Por enquanto, estou vivendo a falência desta mudança repentina, que me custou mais do que eu podia e que me faz, agora, ficar listando as coisinhas que preciso com urgência, mas que não poderei dar conta de providenciar de imediato. No topo dos desejos, estão uma luminária para as leituras noturnas, um criado-mudo para o que deve estar à mão e um porta-talheres para que eles não fiquem jogados na gaveta. Também tenho de prender o espelho na parede. Depois, vêm uma estante (a mais) pra sala, quadros e mais quadros (há ótimos espaços para eles), cabideiro de chão, uma plantinha pra varanda e, adiante, um sofá. Super vivo sem sofá, mas, vá lá, sofá na sala é uma necessidade de composição; parece que a sala é oca sem sofá. Fica um vaziozão.
Também herdei uns móveis usados que nem de longe teriam sido por mim escolhidos, mas vou brincar de recriá-los, enquanto não for possível substituí-los. O mesmo vale para o banheiro, que terá seus azulejos transformados em arte (um viva a Thalita Carvalho, cujo blog eu tenho revirado com água na boca).
Enfim: o que importa nesta hora é que tudo que eu trouxe comigo já está em seu canto devido, milimétrica e metodicamente organizado, como eu gosto. Nenhuma vez em minha vida eu precisei achar algo e não encontrei. Tudo tem lugar exato, sem desvio. E, nesta ocasião de rearrumar os meus pertences, eu fico aplaudindo a mim mesma ao definir em que pedaço do meu mundo eles vão passar a residir.
Melhor ainda é incorporar a alma faxineira sem ver rolar nenhuma gota de suor. Não sei se faz parte da coincidência de ter me mudado na virada de estação, mas minha sensação é de que moro no lugar mais ventilado da história. Não há trégua nos rodopios de vento por aqui. Eles vêm e vão por todos os lados, fazem corrente e assoviam sem parar. Estou já me acostumando com o soar incessante (uuuuuuu!), só preciso identificar onde eles batem com força de derrubar objetos. Ao menos um deles cai a cada dia (hoje eu levei uma porta-retratada na testa) – e lá vou eu catar um repouso mais seguro para os despencados. O troca-troca ainda não acabou. Caso é que estou mesmo curiosa para ver como é o verão daqui de dentro. Espero que estar ao décimo andar de um prédio que me privilegia com uma estonteante vista para o mar seja garantia de arejo eterno.
Pois então é tempo de convocar as visitas, de encher esta casa de vida e de ver ser escrita a história desta etapa nova, e já tão feliz.
Esta imagem já faz parte do passado! |
Update: torneira da cozinha trocada. Acabou-se aguaceiro.
5 de maio de 2011
Catarina Costela
Por mais que eu finja bem, não sou uma mulher simpática. Nem dada. Nem muito aberta. Sou capaz de conviver anos com pessoas sem que elas nunca ouçam nada íntimo sobre mim. Raros são aqueles a quem chamo, de verdade, de amigo. Porque amizade dá trabalho. Porque amizade demanda tempo, atenção, disponibilidade. E eu não me disponho a isso à toa. Meus amigos são muito bem e cuidadosamente escolhidos. Levo tempo até abrir espaço em meu coração. A estabelecer este tipo de relação de troca absoluta – e oferecer minha lealdade, que é o que dou de mais valioso. Construir este pacto, para mim, é um movimento sagrado. Um milagre bom de ver realizado. É que é isso, né? Amizade é um negócio mágico. Alguém que se cruza com você nesta vida de milhões de possibilidades, e que você reconhece e diz: ei, vem viver comigo?
Eu e Catarina nunca fomos apresentadas. De tanto que nos cruzávamos, de tantos conhecidos comuns, de tanto passarmos uma ao lado da outra, de tantas histórias conectadas, começamos a nos cumprimentar: “boa noite, tudo bem?”. Pura gentileza de quem já estava achando ridículo fingir que não sabíamos da existência uma da outra. Então pronto: “Oi, Catarina”. “Oi, Paula”.
Já houve comentário de que nossa aproximação foi repentina. Talvez tenha quem pense que foi estratégica, cômoda. Recapitulo tudo e fico muito emocionada. Desde aqueles gestos educados iniciados em 2007, as circunstâncias da vida nos colocaram em contato constante. Assim, dia a dia, lentamente, fomos nos descobrindo. Nos olhando. Nos checando. Saindo. Viajando. Conversando. Compartilhando. E vendo, com cada nova experiência, que havia uma vaga reservada no peito para a consagração final.
Não esperávamos por isso, tampouco precisávamos disso. Somos, privilegiadamente, rodeadas de amores que pareciam ser suficientes. É possível que isto tenha deixado tudo acontecer ainda com menos pressa. É certeza que isto nos comprova, todo o tempo, que nosso vínculo é muito forte – e que há sempre amor para se multiplicar. Foi uma escolha muito bem feita. Uma entrega muito bem alicerçada.
Lembro-me do dia em que ela me disse: agora sei que você confia em mim. Dali pra cá, depois das afirmações que os sentimentos pedem, depois de eu abrir o meu pesado portão, não sei como pensar em mim sem ela. Não sei como teriam sido os últimos tempos. E fico feliz, de fechar os olhos e apertar as mãos, pela sorte de tê-la comigo.
Hoje, 5 de maio, Cat faz aniversário. Trinta anos como eu, taurina como eu, nascida no Hospital Português como eu, registrada por Gelsa da Cunha Cruz como eu. E tudo isto, apesar de nossas inúmeras e grandes diferenças, é apenas parte de nossas identificações. A melhor delas, aliás, é o tesão que a gente tem pela vida. Como é foda, muito foda, a gente poder lembrar isso uma para a outra: que não merecemos nunca menos que muito, quando alguma das duas dá de se enfraquecer por qualquer razão. Tem sido assim que, desde que nos aceitamos, sabemos que não há tropeço que não possa ser amortecido pelo sorriso que está sempre pronto para ser ofertado.
Não conheço criatura mais leal que ela. É de uma prontidão infalível. É uma mulher honesta, sincera, que fala (e como fala!) o que pensa e não teme as consequências. Se alguém discorda, ela ouve com respeito e cuidado, rebate se achar justo, defende o que acredita. É uma mulher que se propõe a melhorar, mesmo com os medos, desconhecimentos e desafios que precise aprender a enfrentar. Ela é inteligente, bem informada e ninguém ganha dela no Perfil, aquele jogo de conhecimentos gerais da Grow. Cat é interessante. Divertida e engraçada. E me acompanha na cerveja atééééé o final. Até amanhecer. Até só ter vinho ruim pra beber. Sempre queremos mais. Sempre nos renovamos a cada diálogo. Ela dança, faz cena, caras e bocas, tira fotos, conta histórias, arranca gargalhadas, faz dengo, apoia, incentiva, reclama, sofre, resolve e lá vai ela, comprometida com o que é e com quem a cerca. Por sinal, tem tanta gente que cerca e ama esta balzaca que eu só posso entender que o mundo, apesar de tudo, é mesmo uma inesgotável resposta àquilo que nos prestamos.
Catita, minha amiga,
Eu espero ser sempre capaz de honrar o privilégio de sua amizade.
Você, como já disse, me movimenta, me mobiliza. “Companhia certa de todas as horas”.
Estou por você. Obrigada por tudo.
Feliz aniversário!
Te amo.
E, ah!, vou botar este vídeo LINDÃO aqui. É que Cat esteve comigo mesmo eu estando lá do outro lado do Oceano!
Eu e Catarina nunca fomos apresentadas. De tanto que nos cruzávamos, de tantos conhecidos comuns, de tanto passarmos uma ao lado da outra, de tantas histórias conectadas, começamos a nos cumprimentar: “boa noite, tudo bem?”. Pura gentileza de quem já estava achando ridículo fingir que não sabíamos da existência uma da outra. Então pronto: “Oi, Catarina”. “Oi, Paula”.
Já houve comentário de que nossa aproximação foi repentina. Talvez tenha quem pense que foi estratégica, cômoda. Recapitulo tudo e fico muito emocionada. Desde aqueles gestos educados iniciados em 2007, as circunstâncias da vida nos colocaram em contato constante. Assim, dia a dia, lentamente, fomos nos descobrindo. Nos olhando. Nos checando. Saindo. Viajando. Conversando. Compartilhando. E vendo, com cada nova experiência, que havia uma vaga reservada no peito para a consagração final.
Não esperávamos por isso, tampouco precisávamos disso. Somos, privilegiadamente, rodeadas de amores que pareciam ser suficientes. É possível que isto tenha deixado tudo acontecer ainda com menos pressa. É certeza que isto nos comprova, todo o tempo, que nosso vínculo é muito forte – e que há sempre amor para se multiplicar. Foi uma escolha muito bem feita. Uma entrega muito bem alicerçada.
Lembro-me do dia em que ela me disse: agora sei que você confia em mim. Dali pra cá, depois das afirmações que os sentimentos pedem, depois de eu abrir o meu pesado portão, não sei como pensar em mim sem ela. Não sei como teriam sido os últimos tempos. E fico feliz, de fechar os olhos e apertar as mãos, pela sorte de tê-la comigo.
Hoje, 5 de maio, Cat faz aniversário. Trinta anos como eu, taurina como eu, nascida no Hospital Português como eu, registrada por Gelsa da Cunha Cruz como eu. E tudo isto, apesar de nossas inúmeras e grandes diferenças, é apenas parte de nossas identificações. A melhor delas, aliás, é o tesão que a gente tem pela vida. Como é foda, muito foda, a gente poder lembrar isso uma para a outra: que não merecemos nunca menos que muito, quando alguma das duas dá de se enfraquecer por qualquer razão. Tem sido assim que, desde que nos aceitamos, sabemos que não há tropeço que não possa ser amortecido pelo sorriso que está sempre pronto para ser ofertado.
Não conheço criatura mais leal que ela. É de uma prontidão infalível. É uma mulher honesta, sincera, que fala (e como fala!) o que pensa e não teme as consequências. Se alguém discorda, ela ouve com respeito e cuidado, rebate se achar justo, defende o que acredita. É uma mulher que se propõe a melhorar, mesmo com os medos, desconhecimentos e desafios que precise aprender a enfrentar. Ela é inteligente, bem informada e ninguém ganha dela no Perfil, aquele jogo de conhecimentos gerais da Grow. Cat é interessante. Divertida e engraçada. E me acompanha na cerveja atééééé o final. Até amanhecer. Até só ter vinho ruim pra beber. Sempre queremos mais. Sempre nos renovamos a cada diálogo. Ela dança, faz cena, caras e bocas, tira fotos, conta histórias, arranca gargalhadas, faz dengo, apoia, incentiva, reclama, sofre, resolve e lá vai ela, comprometida com o que é e com quem a cerca. Por sinal, tem tanta gente que cerca e ama esta balzaca que eu só posso entender que o mundo, apesar de tudo, é mesmo uma inesgotável resposta àquilo que nos prestamos.
Catita, minha amiga,
Eu espero ser sempre capaz de honrar o privilégio de sua amizade.
Você, como já disse, me movimenta, me mobiliza. “Companhia certa de todas as horas”.
Estou por você. Obrigada por tudo.
Feliz aniversário!
Te amo.
Difícil escolher uma entre milhares de fotos. Vai esta: esmaguenta! |
E, ah!, vou botar este vídeo LINDÃO aqui. É que Cat esteve comigo mesmo eu estando lá do outro lado do Oceano!
24 de abril de 2011
Aí é assim
Não tenho memória de uma Semana Santa que tenha sido assim tão tarde. Tão fim de abril. Tão perto de meu aniversário. Também não lembrava de como eram dias de folga em calmaria. Os últimos foram nas férias, com verão, com viagens, climão de vida em ebulição. Eis que juntou tudo: a preguiça, o mito do inferno astral, a vontade de curtir minha casa, o friozinho, a comilança, o recolhimento. Tenho estado muito próxima de minha intimidade. Tenho mantido contato com desafios internos, perguntas que me faço em segredo. Que só compartilho comigo. Que só eu posso dar conta.
Muita gente tem dificuldade de falar do que sente. Também não sou rainha em me expressar bem. Por isso, sempre usei a palavra escrita como saída para quase tudo. E tenho gostado de não estar recorrendo a isso. Estou dialogando comigo mesma em pensamento, observando minhas atitudes, tentando responder minhas questões com ações, na prática. Acho que nunca fui tão consciente – e em vez de transformar meus dilemas em cartas e teorias, tenho os experimentado. Com menos ansiedade, com mais ponderação, mais sensatez, mais segurança. Porque antes de entender o que o mundo quer de mim, preciso entender o que quero do mundo. Então estou calmamente vendo como as coisas são, o que elas dizem e como me posiciono diante delas.
Aí é assim:
Eu queria que fosse. Mas não é. Faço o quê com isso?
Eu queria que não fosse. Mas é. Vamos nessa.
Eu queria que pudesse. Mas não pode. Como seguir?
Eu queria que não pudesse. Mas pode. Quero isso?
É um exercício e tanto não ter pressa.
Aceitar as lentidões dos processos.
Mesmo que, numa leitura imediata, isto pareça apatia. Aceitação.
E né não. Né não.
Os trinta estão chegando com cheiro bom.
Muita gente tem dificuldade de falar do que sente. Também não sou rainha em me expressar bem. Por isso, sempre usei a palavra escrita como saída para quase tudo. E tenho gostado de não estar recorrendo a isso. Estou dialogando comigo mesma em pensamento, observando minhas atitudes, tentando responder minhas questões com ações, na prática. Acho que nunca fui tão consciente – e em vez de transformar meus dilemas em cartas e teorias, tenho os experimentado. Com menos ansiedade, com mais ponderação, mais sensatez, mais segurança. Porque antes de entender o que o mundo quer de mim, preciso entender o que quero do mundo. Então estou calmamente vendo como as coisas são, o que elas dizem e como me posiciono diante delas.
Aí é assim:
Eu queria que fosse. Mas não é. Faço o quê com isso?
Eu queria que não fosse. Mas é. Vamos nessa.
Eu queria que pudesse. Mas não pode. Como seguir?
Eu queria que não pudesse. Mas pode. Quero isso?
É um exercício e tanto não ter pressa.
Aceitar as lentidões dos processos.
Mesmo que, numa leitura imediata, isto pareça apatia. Aceitação.
E né não. Né não.
Os trinta estão chegando com cheiro bom.
5 de abril de 2011
Mais uma mudança
Morar só era meu maior sonho de consumo, e é minha maior realização. Quando, em 8 de abril de 2010, assinei o contrato de locação do imóvel quarto e sala que hoje me abriga, minúsculo e fofíssimo, perfeitamente localizado, incrivelmente adequado às minhas mais surreais vontades, eu não cabia em mim de felicidade.
Encaixotar meus bagulhos, arrumar malas, transportar tudo, remontar as coisas, arranjar o lugar novo de cada uma delas, comprar (e ganhar) os trocinhos que fazem minha casa ser minha casa – tudo isso foi mágico. Muito mágico.
Lembro da primeira noite, eu e meu mundo, só nós dois, juntos. Eu não sabia se dormia ou sorria. Lembro de como foi me adaptar ao novo ambiente, até aprender a acender a luz sem procurar onde está o interruptor. Lembro das festinhas open house, e do meu orgulho de mostrar tudo para as visitas. Lembro das conversas na varanda, e das tantas vezes que fui até lá, sozinha, para sentir o vento gostoso que entra em meu quarto – e, putaquepariu, como é bom o meu quarto.
Há um ano, este apartamento tão pequeno resguarda e comporta o que vivo, alegrias e tristezas inúmeras. Gosto da luz que faz aqui, do conforto que emana dos detalhes, de como o espaço é bem aproveitado. Cuidar de tudo, manter a casa arrumada, ajeitar dia a dia meus pedaços que se espalham são satisfações que se tornam rotina. Uma rotina boa danada.
Agora, é chegada a hora de me despedir deste conto de fadas. E eu começo a me culpar questionando se aproveitei tanto quanto deveria. Será que deixei algum momento passar em vão? Será que em alguma circunstância esqueci-me do privilégio que é esta moradia? Será que este ano que se passou foi um tempo que honrou esta alegria? Na piscina do playground, só entrei uma vez. Isto é muito grave?
De certa forma, desde os instantes iniciais, eu sabia que esta história era passageira. Meus amigos são testemunhas de minhas agonias. Quando eu vim, eu disse: “mau é que penso que daqui a um ano vai acabar”. Já cheguei temendo o que estou vivendo agora. Talvez por isso eu não tenha me atrevido a sequer fazer furos na parede.
Assim, quando tudo que é meu for retirado, o apartamento retornará idêntico às mãos do dono – com exceção do fato de já ter sido meu lar, e de isto provavelmente me fazer chorar cada vez que eu cruzar a porta do prédio num futuro bem próximo.
Aliás, vale mostrar este videozinho filmado por Lubisco na noite da foto acima. Até de reclamar do trânsito na minha porta eu vou sentir saudade.
----
Reli um texto que escrevi na época da chegada e... puxa...
----
Sobre a razão: renovar o contrato é algo que está além de minha realidade. Ter passado 12 meses neste lugar foi um luxo que não poderei repetir.
Encaixotar meus bagulhos, arrumar malas, transportar tudo, remontar as coisas, arranjar o lugar novo de cada uma delas, comprar (e ganhar) os trocinhos que fazem minha casa ser minha casa – tudo isso foi mágico. Muito mágico.
Lembro da primeira noite, eu e meu mundo, só nós dois, juntos. Eu não sabia se dormia ou sorria. Lembro de como foi me adaptar ao novo ambiente, até aprender a acender a luz sem procurar onde está o interruptor. Lembro das festinhas open house, e do meu orgulho de mostrar tudo para as visitas. Lembro das conversas na varanda, e das tantas vezes que fui até lá, sozinha, para sentir o vento gostoso que entra em meu quarto – e, putaquepariu, como é bom o meu quarto.
Há um ano, este apartamento tão pequeno resguarda e comporta o que vivo, alegrias e tristezas inúmeras. Gosto da luz que faz aqui, do conforto que emana dos detalhes, de como o espaço é bem aproveitado. Cuidar de tudo, manter a casa arrumada, ajeitar dia a dia meus pedaços que se espalham são satisfações que se tornam rotina. Uma rotina boa danada.
Agora, é chegada a hora de me despedir deste conto de fadas. E eu começo a me culpar questionando se aproveitei tanto quanto deveria. Será que deixei algum momento passar em vão? Será que em alguma circunstância esqueci-me do privilégio que é esta moradia? Será que este ano que se passou foi um tempo que honrou esta alegria? Na piscina do playground, só entrei uma vez. Isto é muito grave?
De certa forma, desde os instantes iniciais, eu sabia que esta história era passageira. Meus amigos são testemunhas de minhas agonias. Quando eu vim, eu disse: “mau é que penso que daqui a um ano vai acabar”. Já cheguei temendo o que estou vivendo agora. Talvez por isso eu não tenha me atrevido a sequer fazer furos na parede.
Assim, quando tudo que é meu for retirado, o apartamento retornará idêntico às mãos do dono – com exceção do fato de já ter sido meu lar, e de isto provavelmente me fazer chorar cada vez que eu cruzar a porta do prédio num futuro bem próximo.
Eu e o coração Restart numa das poucas fotos que mostram um tanto do (ainda) meu apê |
Aliás, vale mostrar este videozinho filmado por Lubisco na noite da foto acima. Até de reclamar do trânsito na minha porta eu vou sentir saudade.
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Reli um texto que escrevi na época da chegada e... puxa...
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Sobre a razão: renovar o contrato é algo que está além de minha realidade. Ter passado 12 meses neste lugar foi um luxo que não poderei repetir.
4 de abril de 2011
1 de abril de 2011
O poder da gentileza masculina
Nunca consigo falar sobre Theo, especialmente para quem não o conhece, sem fazer algum tipo de elogio. Convenhamos: este meu amigo, homem de perfeitos 36 aninhos, arquiteto, cantor e compositor, parece feito sob medida para causar admiração. Aquele tipo de gente cuja ocorrência na população é raríssima. O privilégio, obviamente, não é só dele. É meu. E de todos aqueles que cruzam seu caminho.
Fácil é explicar por que digo isso. O texto, sei de cor. Repito sempre: Theo é bonito. É grande. Tem presença magnânima. É magro sem deixar de ser forte. É forte na medida da naturalidade. O corpo está todo encaixado no lugar certo. Charme puro. Classudo. Para completar, ele sempre cobre esta fartura com proeza: Theo se veste bem e, em seu estilo sempre básico, surpreende pelo bom gosto. Adoro os sapatos dele. É de uma elegância absurda – e elegância, vamos combinar, não se escolhe ter. Elegância é atributo de poucos e, na minha opinião, uma das coisas mais belas que podem existir. Se eu pudesse escolher acordar com uma mudança drástica em minha aparência, ao invés de barriga tanquinho ou qualquer outra coisa, escolheria amanhecer sublimemente elegante.
Daí Theo abre a boca e sai um vozeirão que é uma covardia, acompanhado de uma simpatia e um bom humor que fazem ser impossível não sorrir de volta para ele. É isso: ele sempre olha nos olhos e sorri com sinceridade. Sem contar aquele abraço gigante que te faz sentir querido. E é divertido. Dança. Fala bem. Inteligente, articulado, atencioso. A companhia dele é prazerosa: para papear, para farrear, para beber até de manhã.
Ainda assim, tudo isso é fichinha diante da mais prestigiosa qualidade que um homem pode ter: Theo é gentil. Muito gentil.
Estava hoje, num dos momentos de ócio criativo do expediente, teorizando sobre a gentileza masculina com meus colegas de trabalho. Nada, absolutamente nada, é capaz de ser mais sexy, atraente, forte e imperativo do que um homem com tal predicado. Mas há de ser numa medida exata: sem excessos, sem forçação, sem subserviência. A gentileza arrebatadora é aquela que jamais se assemelha a insegurança ou desajeito. É aquela que, pelo contrário, expressa a altivez de quem confia em seu taco, de quem reconhece o que é respeito, de quem é soberano o suficiente para tratar o mundo de forma limpidamente educada.
Em vez de querer dominar o pedaço com agrestia, como agem alguns brutamontes que envergonham a humanidade, os rapazes gentis arrebatam lances de mestre, acumulando fãs que geralmente não saberão dizer o que é que causa tamanha atração. Há algo de misterioso, mesmo. É que você olha para aquele ser humano no alto de sua capacidade luminosa e conclui que se tornaria um feliz e eterno escravo de suas atitudes gentis. Nada, absolutamente nada, confere tanto poder a um macho.
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Nota para quem possa ter se iludido que coisa assim estaria dando sopa:
Theo é um homem casado. Não se anime.
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Para ver e ouvir Theo, à frente de sua banda: Os Irmãos da Bailarina. A letra é dele também.
Fácil é explicar por que digo isso. O texto, sei de cor. Repito sempre: Theo é bonito. É grande. Tem presença magnânima. É magro sem deixar de ser forte. É forte na medida da naturalidade. O corpo está todo encaixado no lugar certo. Charme puro. Classudo. Para completar, ele sempre cobre esta fartura com proeza: Theo se veste bem e, em seu estilo sempre básico, surpreende pelo bom gosto. Adoro os sapatos dele. É de uma elegância absurda – e elegância, vamos combinar, não se escolhe ter. Elegância é atributo de poucos e, na minha opinião, uma das coisas mais belas que podem existir. Se eu pudesse escolher acordar com uma mudança drástica em minha aparência, ao invés de barriga tanquinho ou qualquer outra coisa, escolheria amanhecer sublimemente elegante.
Daí Theo abre a boca e sai um vozeirão que é uma covardia, acompanhado de uma simpatia e um bom humor que fazem ser impossível não sorrir de volta para ele. É isso: ele sempre olha nos olhos e sorri com sinceridade. Sem contar aquele abraço gigante que te faz sentir querido. E é divertido. Dança. Fala bem. Inteligente, articulado, atencioso. A companhia dele é prazerosa: para papear, para farrear, para beber até de manhã.
Ainda assim, tudo isso é fichinha diante da mais prestigiosa qualidade que um homem pode ter: Theo é gentil. Muito gentil.
Estava hoje, num dos momentos de ócio criativo do expediente, teorizando sobre a gentileza masculina com meus colegas de trabalho. Nada, absolutamente nada, é capaz de ser mais sexy, atraente, forte e imperativo do que um homem com tal predicado. Mas há de ser numa medida exata: sem excessos, sem forçação, sem subserviência. A gentileza arrebatadora é aquela que jamais se assemelha a insegurança ou desajeito. É aquela que, pelo contrário, expressa a altivez de quem confia em seu taco, de quem reconhece o que é respeito, de quem é soberano o suficiente para tratar o mundo de forma limpidamente educada.
Em vez de querer dominar o pedaço com agrestia, como agem alguns brutamontes que envergonham a humanidade, os rapazes gentis arrebatam lances de mestre, acumulando fãs que geralmente não saberão dizer o que é que causa tamanha atração. Há algo de misterioso, mesmo. É que você olha para aquele ser humano no alto de sua capacidade luminosa e conclui que se tornaria um feliz e eterno escravo de suas atitudes gentis. Nada, absolutamente nada, confere tanto poder a um macho.
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Nota para quem possa ter se iludido que coisa assim estaria dando sopa:
Theo é um homem casado. Não se anime.
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Para ver e ouvir Theo, à frente de sua banda: Os Irmãos da Bailarina. A letra é dele também.
31 de março de 2011
Só porque este blog não será abandonado
Quem, como eu, é gente escrava das palavras está escrevendo sempre, mesmo que não vire um texto oficialmente. Eu passo o tempo inteiro pensando com base em histórias, em ordenamento, montando as peripécias da mente em forma de livro, que vou lendo como se estivesse em minha frente.
Nestas lucubrações dos últimos dias, iniciei, desenvolvi e finalizei uma dezena de artigos, crônicas e resenhas que, prometi, viriam parar no blog. Esqueci já da metade, visto não ter o hábito de anotar os devaneios. O resto, simplesmente não tive oportunidade de fazer virar coisa além de mim. Ainda está tudo embolado aqui dentro.
Daqui a alguns minutos (faltam só nove páginas e meia das 322 totais!), terei finalizado mais um trabalho árduo de revisão e, espero, poderei voltar a reservar parte do meu tempo para brincar de ser blogueira.
E vim dizer isso só para março não passar em branco nesta singela página virtual.
Até logo!
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Update
Acabeeeeeeeeeeeeeeeeei!
Nestas lucubrações dos últimos dias, iniciei, desenvolvi e finalizei uma dezena de artigos, crônicas e resenhas que, prometi, viriam parar no blog. Esqueci já da metade, visto não ter o hábito de anotar os devaneios. O resto, simplesmente não tive oportunidade de fazer virar coisa além de mim. Ainda está tudo embolado aqui dentro.
Daqui a alguns minutos (faltam só nove páginas e meia das 322 totais!), terei finalizado mais um trabalho árduo de revisão e, espero, poderei voltar a reservar parte do meu tempo para brincar de ser blogueira.
E vim dizer isso só para março não passar em branco nesta singela página virtual.
Até logo!
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Update
Acabeeeeeeeeeeeeeeeeei!
12 de fevereiro de 2011
25 de janeiro de 2011
Desintoxicação
Certa vez, passei um dia inteiro à base de uma lista de tenebrosos sucos de misturas de ingredientes que não combinam, coisas como maçã com espinafre, beterraba e ervilha, porque aquilo prometia desintoxicar meu organismo. Há infidáveis receitas e dietas de desintoxicação que nunca soube direito se realmente têm fundamento. Mas eu tentei. Às vezes a gente sente esta necessidade de limpeza.
Estar numa cidade cuja até lógica do trânsito é invertida em relação àquilo que vi em todos os momentos dos meus quase 30 anos tem sido uma efetiva e completa lavagem. Tudo se renova diante do olhar, dos ouvidos, de todos sentidos. Os cheiros são novos, os gostos também, a textura do ar é outra, o frio me aquece intimamente e os símbolos precisam ser decifrados. É uma desintoxicação ambiental. E de alma. Limpa tudo para abrir espaço ao que é desconhecido e que me pede atenção em cada rua atravessada, cada tentativa de diálogo, cada vez que me perco entre as moedas que não me são familiares. Nada é automático. Nada é por costume, rotineiro, cansativo, repetitivo. Nenhuma paisagem é comum nem passa sem ser vista. Tudo se absorve. O óbvio torna-se inexistente. Todo segundo que se concretiza é uma nova surpresa que torna o dia mais inteiro. Mais meu. Mais eu. É preciso estar muito consigo para viver a experiência de desvendar o que nos cerca.
É deliciosamente esquisito não estar localizada, não ter um background que anteveja o que há na próxima esquina, na próxima abordagem. São rostos e tipos diferentes, arquitetura deslumbrante, um emaranhado de línguas e sotaques, tanta coisa para descobrir. Ao mesmo tempo, é fantástico, a cada dia, começar a reconhecer a segurança de que sei voltar pra casa, e desenvolver habilidades. Sozinha. É sozinha que tenho estado a maior parte do tempo, mesmo que acompanhada por gente que nunca vi antes, e que não verei de novo. Sozinha dormirei esta noite, o que estranhamente causa uma sensação de pertencimento. Estou pertencendo a Londres e Londres parece existir só pra que eu esteja aqui, amando tudo.
Estar numa cidade cuja até lógica do trânsito é invertida em relação àquilo que vi em todos os momentos dos meus quase 30 anos tem sido uma efetiva e completa lavagem. Tudo se renova diante do olhar, dos ouvidos, de todos sentidos. Os cheiros são novos, os gostos também, a textura do ar é outra, o frio me aquece intimamente e os símbolos precisam ser decifrados. É uma desintoxicação ambiental. E de alma. Limpa tudo para abrir espaço ao que é desconhecido e que me pede atenção em cada rua atravessada, cada tentativa de diálogo, cada vez que me perco entre as moedas que não me são familiares. Nada é automático. Nada é por costume, rotineiro, cansativo, repetitivo. Nenhuma paisagem é comum nem passa sem ser vista. Tudo se absorve. O óbvio torna-se inexistente. Todo segundo que se concretiza é uma nova surpresa que torna o dia mais inteiro. Mais meu. Mais eu. É preciso estar muito consigo para viver a experiência de desvendar o que nos cerca.
É deliciosamente esquisito não estar localizada, não ter um background que anteveja o que há na próxima esquina, na próxima abordagem. São rostos e tipos diferentes, arquitetura deslumbrante, um emaranhado de línguas e sotaques, tanta coisa para descobrir. Ao mesmo tempo, é fantástico, a cada dia, começar a reconhecer a segurança de que sei voltar pra casa, e desenvolver habilidades. Sozinha. É sozinha que tenho estado a maior parte do tempo, mesmo que acompanhada por gente que nunca vi antes, e que não verei de novo. Sozinha dormirei esta noite, o que estranhamente causa uma sensação de pertencimento. Estou pertencendo a Londres e Londres parece existir só pra que eu esteja aqui, amando tudo.
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